Teste identifica infecção prévia de dengue e zika 

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um teste capaz de identificar a infecção prévia da dengue e do zika vírus. A pesquisa foi realizada no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, em parceria com a Universidade Federal do Oeste da Bahia.

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O estudo foi liderado pelo professor Jaime Henrique Amorim e publicado no periódico acadêmico Journal of Medical Virology.

O diagnóstico preciso da dengue

A dengue, transmitida por mosquitos, é o vírus mais disseminado globalmente. Além disso, possui quatro sorotipos distintos que circulam, como o zika. 

Em razão das semelhanças entre os antígenos desses vírus, ocorrem frequentemente reações diferentes. Isso dificulta diagnósticos precisos. Para aumentar a especificidade do teste, os pesquisadores utilizaram fragmentos de proteínas dos vírus.

O teste foi inicialmente validado com amostras de sangue de camundongos infectados experimentalmente com os vírus da dengue e do zika. 

Posteriormente, cerca de 650 amostras de soro de São Paulo, coletadas durante a epidemia de zika de 2015 a 2017, foram analisadas. O teste demonstrou uma sensibilidade de 87,8% e especificidade de 91,4%.

A validação do teste

Além disso, 318 amostras de soro de pessoas saudáveis na cidade de Barreiras, na Bahia, sem diagnóstico prévio de dengue, foram testadas.

Em 2024, por exemplo, o Brasil registrou um recorde de 6,6 milhões de casos prováveis de dengue, o que resultou em 6 mil mortes | Foto: Jcomp/Freepik
Em 2024, o Brasil registrou um recorde de 6,6 milhões de casos prováveis de dengue, o que resultou em 6 mil mortes | Foto: Jcomp/Freepik

Cerca de 65% reagiram com pelo menos um antígeno de dengue, enquanto apenas três amostras mostraram reatividade ao vírus zika. Isso sugere que o zika não circula na região há anos ou que os anticorpos têm curta duração.

A volta do sorotipo três

O ressurgimento do sorotipo três da dengue no Brasil, depois de 17 anos, preocupa especialistas, pois pode agravar surtos. Já foram registradas 21 mortes nas primeiras semanas de 2025, dois terços delas em São Paulo. 

O teste desenvolvido permitirá identificar pessoas sem imunidade contra os tipos circulantes da dengue e implantar medidas preventivas direcionadas.

Germana Soares, vice-presidente da ONG UniZika Brasil, criticou a decisão do governo | Foto: Reprodução/Freepik
No caso do zika, será possível testar a imunidade de pessoas em idade fértil e grávidas | Foto: Reprodução/Freepik

O teste avalia o status imunológico de pessoas previamente expostas aos vírus e aquelas imunizadas com vacinas em uso no país. 

No caso do zika, será possível testar a imunidade de pessoas em idade fértil e grávidas, principal grupo de risco, sem preocupação de reatividade cruzada com anticorpos gerados depois da infecção pelos quatro sorotipos da dengue.

Dengue nas quatro estações

De acordo com o Ministério da Saúde, 6 mil brasileiros morreram de dengue no ano passado. Esse número supera a soma de óbitos pela doença nos últimos oito anos. Como o governo ainda investiga 6,5 milhões de casos prováveis, a situação deve se agravar nos próximos meses. Outro ponto desfavorável é o pico do verão, com a temporada de chuvas, o que tradicionalmente amplia o número de casos.

O país bateu a triste marca de incidência da doença em todo o continente americano. Um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), publicado em outubro, revelou que os casos de dengue no Brasil em 2024 subiram 255% em relação a 2023, e mais de 430% em comparação com a média dos últimos cinco anos. E não para aí: o Brasil concentrou cerca de 80% de todos os casos de dengue.

Mortes por dengue no Brasil (de 2017 a 2024) | Fonte: Ministério da Saúde (dados até 28 de dezembro de 2024)

Infectologista da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Grupo Oncoclínicas, Filipe Prohaska chama atenção para algumas falhas estruturais no país que tiveram impacto no combate à dengue — especialmente o atraso na vacinação dos brasileiros. Apesar da propaganda de pioneirismo do Ministério da Saúde, Prohaska afirmou que a vacina da dengue chegou à população um ano depois de ter sido lançada e liberada em diversos países.

“A taxa de vacinação da população foi muito baixa, e a propaganda governamental de conscientização foi muito escassa”, avaliou o especialista. “Como não havia vacina suficiente para a população, o governo não fez a propaganda justamente para não haver uma procura maior.”

Leia também: “Brasil: o país da dengue”, reportagem publicada na Edição 220 da Revista Oeste

Para o infectologista Francisco Cardoso, integrante do Conselho Federal de Medicina (CFM), os erros do Ministério da Saúde agravaram a situação. “Primeiro, por ter negligenciado os sinais do surto da epidemia de 2023”, explicou. “Em dezembro do ano retrasado, já estávamos vivenciando uma epidemia. Ou seja, o que aconteceu em 2024 foi só uma amplificação do problema.” 

Cardoso acredita que o Ministério da Saúde está retardando a vacinação em massa contra a dengue porque quer privilegiar a criação de um imunizante nacional. “Eles querem que os recursos públicos para o pagamento das vacinas vão para algumas instituições — o que, na minha opinião, está errado”, disse. “Já temos uma vacina aprovada, autorizada no Brasil desde 2022: a japonesa Takeda. Contudo, o go

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