Lula está perdido e desconectado da realidade, diz Estadão

A retomada do circuito radiofônico de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é, sem dúvida, parte da estratégia para tentar estancar a queda de popularidade. Mas as primeiras entrevistas do ano mostram o presidente perdido ao avaliar a inflação, o problema que atualmente mais aflige a população. O assunto é destaque no editorial do jornal O Estado de S.Paulo.

Conforme o veículo, a tática tem sido a de terceirizar responsabilidades, com argumentos que colocam o governo como vítima da alta de preços, e não como um de seus principais causadores, numa narrativa absolutamente desconectada da realidade.

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Primeiro, a ouvintes de Minas Gerais, Lula buscou passar a ideia de que o governo leva “muito a sério” a inflação, que, segundo ele, “está razoavelmente controlada”. No dia seguinte, para rádios baianas, jogou a culpa do descontrole dos preços sobre o Banco Central (BC), acusando a gestão passada da instituição – sob o comando de Roberto Campos Neto – de ter armado “uma arapuca” para seu governo.

Essa armadilha, segundo o petista, não pode ser desmontada “de uma hora para outra”.

Difícil convencer a audiência de que a inflação está “razoavelmente controlada” diante do avanço dos preços de alimentos, pontua o Estadão. Levantamento divulgado no fim de janeiro pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostrou aumentos significativos em itens como leite longa vida (18,83%), carne (25,25%), óleo de soja (29,22%) e café torrado (39,6%). Todos esses produtos integram a cesta básica, ou seja, ao menos em teoria são imprescindíveis a todas as famílias.

“Tampouco é irretorquível o discurso sobre a seriedade com que o governo Lula da Silva trata a estabilidade inflacionária”, afirma o jornal. “Por óbvio, efeitos climáticos extremos têm prejudicado a agricultura e a pecuária com reflexos nos preços, mas considerável parcela dessa escalada se deve, como é notório, a uma demanda que cresce acima da capacidade econômica do país.”

Esse sobreaquecimento, por sua vez, é causado por políticas de governo sustentadas na expansão de gastos e no incentivo desmesurado ao crédito.

Lula diz que sua preocupação maior é evitar que o preço dos alimentos “prejudique o povo” e, para que isso não aconteça, tem feito “reuniões sistemáticas com os setores”.

“Ora, qualquer consumidor sabe que a inflação dos alimentos é sentida mais fortemente pela população mais carente, que despende maior parcela do orçamento mensal para custear a alimentação”, afirma o Estadão. “E não serão reuniões com varejistas ou agricultores que derrubarão preços. Afinal, não há como o governo intervir em preços livres, e o passado recente demonstrou da pior forma para o consumidor a ineficácia de congelamentos.”

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Governo Lula precisa de responsabilidade fiscal

Para o jornal, cabe ao governo Lula, principalmente, o respeito à responsabilidade fiscal, que parece se distanciar do Planalto na proporção inversa à proximidade das eleições de 2026.

O presidente fala em “compensação” caso o reajuste dos combustíveis – que também têm preços livres e deveriam ser ditados por critérios de mercado – tenha impacto sobre os preços de transporte e alimentos. “Vende um discurso vazio, como se tivesse o poder de evitar o repasse do aumento de gasolina e diesel aos transportes e às cargas conduzidas por caminhões”, avalia o jornal.

O maior problema é que Lula enxerga o que quer enxergar e parece acreditar no dom de fazer com que o eleitorado veja o cenário sob a mesma ótica. “A economia está bem, o emprego está crescendo, massa salarial crescendo, coisas estão crescendo”, afirmou o presidente.

Lula participou de entrevista em rádio baiana nesta quinta-feira, 6 | Foto: Reprodução/Redes sociais
Lula participou de entrevista em rádio baiana nesta quinta-feira, 6 | Foto: Reprodução/Redes sociais

O resultado imediato da política expansionista foi, de fato, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego, mas indicadores recentes começam a apontar para a perda de fôlego, tanto que o temor de retração da economia já entrou no radar para 2025 e 2026.

“Entre as ‘coisas que estão crescendo, Lula poderia incluir a dívida pública federal, que no ano passado chegou a R$ 7,3 trilhões, aumento de 12,2% em relação ao fim de 2023, sem contar a correção da inflação”, pontua o veículo.

O esforço para conter a inflação ficou por conta apenas do Banco Central, alvo de críticas do presidente por elevar juros com o único intuito de conter a inflação.

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“Esta sim uma arapuca capaz de minar a popularidade de qualquer governo”, conclui o texto.

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