O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que a inflação esteja “relativamente” dentro da normalidade brasileira desde o Plano Real, em 1994. “O Brasil deixou de ter uma inflação de dois dígitos”, afirmou, durante evento na Arábia Saudita. “Hoje, tem inflação entre 4% e 5%, relativamente dentro da normalidade desde que o real foi implementado.”
Qualquer cidadão com mais de 40 anos tem memória vívida dos anos de hiperinflação, destaca o jornal O Estado de S.Paulo em editorial desta quarta-feira, 19. Felizmente, o país deixou para trás um período em que havia remarcações diárias de itens de supermercados, seguidas por troca de moedas, confiscos, congelamentos e tabelamentos, iniciativas tão conhecidas quanto fracassadas para controlar os preços.
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“A hiperinflação deixou traumas profundos na sociedade brasileira, e não foi por acaso que o ministro da Fazenda que lançou um plano capaz de debelá-la foi eleito e reeleito presidente da República na década de 1990”, afirma o Estadão. “A população estava cansada de tanto amadorismo e, no momento em que conheceu a estabilidade econômica, passou a defendê-la como um valor a ser preservado.”
Dito isso, não se pode dizer que a inflação esteja dentro da normalidade quando o indicador está acima da meta de 3%. “Meta, como se sabe, é para ser cumprida, e os limites inferior e superior servem para acomodar choques”, diz o jornal.
Inflação acumulada está em 4,56%
Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses ficou em 4,56%, mas teria chegado a 5,13% não fosse o bônus nas contas de luz da energia gerada pela usina de Itaipu – uma contribuição que não se repetirá em fevereiro.
Ademais, o IPCA espelha uma cesta de consumo média da população, mas há muitos itens que subiram bem mais e que pesam no bolso das famílias mais carentes, entre eles alimentos. “Não parece ser mera coincidência, portanto, que a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha atingido o pior nível de seus três mandatos e caído mais entre mulheres e habitantes do Nordeste”, avalia o veículo.
“Inflação nunca é algo a ser relativizado, mas é especialmente preocupante quando é o ministro da Fazenda quem o faz”, acrescenta o Estadão. “O gasto público excessivo é um motor que estimula a economia e aquece a demanda, e o governo, quando se recusa a fazer sua parte por meio de uma política fiscal mais austera, deixa toda a responsabilidade de conter a inflação para o Banco Central.”
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A atual taxa básica de juros, em 13,25% ao ano, é reflexo disso, e nada indica que o cenário deva melhorar no curto e médio prazos. Mesmo com a perspectiva de que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a Selic a 14,25% ao ano em março, a mediana das expectativas para o IPCA deste ano subiu pela 18ª semana consecutiva, para 5,60%, segundo o Boletim Focus.
Com a experiência de quem coordenou o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe por 26 anos, o economista Heron do Carmo disse ao Estadão que projeta uma inflação de 5,5% neste ano. Mas a previsão dele depende da adoção de medidas adicionais de controle do gasto público, já descartadas pelo presidente.
“Nada, portanto, parece relativamente dentro da normalidade, a não ser a displicência com que governos petistas lidam com a inflação”, conclui o texto.
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