A escolha de Gleisi Hoffmann para comandar a articulação política do Executivo com o Legislativo é a prova de que o presidente Lula da Silva não está só desconectado da realidade do país nas ruas, mas também da vida política em Brasília. Com popularidade em queda livre, um governo à deriva e nuvens negras no horizonte, Lula tinha a chance de tentar negociar com quem manda no Congresso: o tal Centrão. Não foi o que fez. Optou por agradar o PT, cuja base social definhou junto com seu período na prisão e envelheceu mal.
Gleisi foi um cão de guarda fiel a Lula nesses anos todos, especialmente enquanto ele esteve preso; perdeu capital político – teve de trocar a chance de reeleição ao Senado pela Câmara no Paraná – e agora acaba recompensada com um ministério para o qual a habilidade mínima ela não tem: diálogo e a capacidade de fazer concessões.
Em Brasília, fala-se que sua saída da chefia da sigla também faz parte de uma engenharia maior, com a volta de José Dirceu ao posto de capitão do PT. Lula quer o ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva conduzindo a legenda.
Mas o fato é que Lula, além de não ter quadros à disposição, não tem mais a quem recorrer: o Centrão está pronto para desembarcar de vez e não sofrer os danos colaterais da economia em 2026; e o fiador da eleição, o Supremo Tribunal Federal (STF), parece diante de uma crise ainda não dimensionada por causa dos arroubos e ilegalidades cometidas pelo ministro Alexandre de Moraes. A escolha de Gleisi é só mais um passo em direção ao precipício.
Em tempo: a última vez que Lula decidiu deixar o PT comandando o governo no Congresso, justamente com José Dirceu à frente, o resultado foi o Mensalão.
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