Mecânico da Voepass explica problemas que levaram à queda de avião em Vinhedo

Na última terça-feira, 11, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) suspendeu as operações da Voepass, companhia aérea que ficou tristemente famosa diante do trágico acidente de um avião ATR-72-500 em 9 de agosto. A aeronave caiu em Vinhedo, cidade a 80 km de São Paulo, e causou a morte de 62 pessoas.

Menos de um mês depois do acidente, o Centro de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) indicou em um relatório preliminar que, durante o voo fatal, havia muita formação de gelo nas asas do avião — algo comum na altitude em que os ATR voam. 

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No entanto, a aeronave não desceu para derreter o gelo, como é recomendado, e os sistemas responsáveis por expulsar o gelo das asas falharam. Com a estabilidade muito comprometida, a aeronave perdeu sustentação.

Avião da Voepass
Avião da Voepass caiu em um condomínio residencial em Vinhedo (SP) | Foto: Reprodução/Rede Globo

A queda foi uma das poucas da história da aviação comercial a acontecer devido ao que se chama “parafuso chato”, em que a aeronave gira enquanto perde altitude.

Um mecânico que trabalhou na Voepass antes e depois do acidente, em entrevista à emissora Rede Globo, explica como foi possível que vários problemas se acumulassem a ponto de causar o acidente e os bastidores das operações da Voepass. 

O mecânico, que permaneceu anônimo na entrevista divulgada ao público, neste domingo, 16, já havia trabalhado em várias outras empresas. Ele disse que o diferencial da Voepass é que ela não dá nenhum tipo de suporte aos profissionais para a manutenção. 


“Não só de materiais, de componentes que vão ser postos nos aviões, colocados para manutenção, como ferramentas, tudo”, diz o mecânico. “Passei por grandes empresas, empresas boas, empresas excelentes, quando chegamos na Voepass, a gente sente uma diferença muito grande.”

Quando soube da queda do avião em Vinhedo, ele não ficou surpreso. “Eu já sabia que ia acontecer isso”, pois a aeronave era a que “dava mais problemas, era o avião que dava mais pane”. O mecânico e os colegas de equipe alertavam sobre o estado do avião antes do acidente.

“A gente avisava que o avião estava ruim, a manutenção sabia que o avião estava ruim, a manutenção reportava, falava, avisava, e eles queriam obrigar a gente a botar o avião para voar”, disse ele à Rede Globo, em referência à alta chefia do centro de controle de manutenção da Voepass.

Avaria em avião da Voepass | Foto: Reprodução/UOL
Avaria em avião da Voepass | Foto: Reprodução/UOL

Mesmo depois da tragédia, a Voepass manteve o descaso com a manutenção dos aviões. “Se você me perguntar, ‘poxa, mudou alguma coisa?’, mudou em nada”, afirma o mecânico. “Acho até que piorou.”

Voepass escondeu irregularidades da ANAC, diz ex-funcionário

Imagens exibidas pela Rede Globo em dezembro passado mostraram aviões abandonados em um matagal em Ribeirão Preto, onde fica a sede da Voepass. Segundo o mecânico, essas aeronaves eram “canibalizadas” — desmontadas para fornecer peças a outros aviões em operação. A prática não é necessariamente ilegal, mas o ex-funcionário afirma que, na Voepass, era feita de forma irregular.

Os aviões no matagal ficavam cobertos por lonas. De acordo com o ex-funcionário, a Voepass cobriu as aeronaves porque a ANAC ia fazer uma vistoria. “Estavam tentando esconder da ANAC.”


Em nota à Rede Globo, a Voepass diz que pretende retomar as atividades o mais rápido possível e que, durante seus 30 anos de operação, a segurança sempre foi uma prioridade. A companhia alega que o relatório preliminar do Cenipa confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com certificação válida e todos os sistemas em funcionamento. 

Em relação à manutenção, a Voepass defende que a reutilização de componentes entre aviões é legal, desde que haja certificação e rastreabilidade adequadas. A empresa também contestou as acusações de irregularidades e disse que segue todos os protocolos regulatórios e nunca burlou fiscalizações.

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