‘Querem que acredite que esse morador de rua tentou dar um golpe de Estado’, diz Dallagnol, sobre preso do 8/1

O ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, ironizou a narrativa de que o morador de rua Flávio Soldani, de 58 anos, teve a intenção de aplicar um golpe de Estado nos atos de 8 de janeiro de 2023. O caso foi publicado por Oeste nesta quarta-feira, 19.

“PGR, STF e imprensa governista querem que você acredite que esse morador de rua, que não tem dinheiro pra comer, tentou dar um golpe de Estado e abolir violentamente o Estado Democrático de Direito no 8 de janeiro”, disse Dallagnol, em uma publicação na rede social X. “Quem ele seria no novo governo provisório? Ministro do STF?”


A reportagem de Cristyan Costa revela que Soldani chegou a Brasília vindo de Natal em busca de uma nova oportunidade de vida. Sem recursos financeiros, passou a frequentar os acampamentos montados nas proximidades do Quartel-General do Exército para conseguir alimentação e um local para dormir.

De acordo com a Defensoria Pública da União (DPU), Soldani não tinha qualquer motivação política e sua presença nos acampamentos era movida pela necessidade de sobrevivência. Ainda assim, ele foi preso pela polícia no dia seguinte aos atos na Praça dos Três Poderes.

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Ele teve sua liberdade condicionada ao cumprimento de um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP), que exige confissão de crimes, realização de um “curso da democracia”, cumprimento de horas de trabalho comunitário e pagamento de uma multa, que pode chegar a R$ 5 mil.

Para Soldani, no entanto, esse acordo é inviável. “Não tenho dinheiro para comer, como vou pagar multa?”, indagou durante uma audiência com um juiz auxiliar do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Não tenho dinheiro para comer, como vou pagar multa?”, diz morador de rua

O morador de rua também relatou dificuldades para cumprir as condições impostas pela Justiça. “Para varrer uma rua, preciso, antes, ter dormido um pouco e me alimentado também, além de possuir um local para guardar as minhas coisas, o que não tenho hoje.”

A situação de Soldani se agravou ainda mais quando ele foi preso novamente em São Paulo, em 16 de março, por descumprimento de medidas cautelares. Sem endereço fixo, o homem não pôde cumprir as determinações impostas, o que levou à sua recaptura. Ele ainda relatou dificuldades técnicas com a tornozeleira eletrônica, que frequentemente apresentava falhas.

8 de janeiro
O morador de rua Flávio Beltrão, de 58 anos, durante uma audiência com um juiz auxiliar do gabinete de Moraes – 17/3/2025 | Foto: Reprodução

Durante a audiência, Soldani pediu para permanecer na carceragem da Polícia Federal em São Paulo, por temer pela própria segurança caso fosse solto. “Sinceramente, me conheço muito bem e temo pela minha segurança emocional e física se eu sair daqui para outro lugar”, afirmou.

Antes de viver na rua, o homem teve experiência como recepcionista, por ter trabalhado 15 anos em um hotel em Natal. Ele tem dois filhos maiores, que moram com a mãe. Ao chegar a Brasília, através de carona com vários caminhoneiros que encontrou na estrada, queria atuar como programador de computadores, por também ter experiência na área.

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