Depois de enfrentar uma campanha de desmoralização, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas — instituição responsável pelo Oscar — finalmente se manifestou oficialmente sobre os supostos ataques sofridos pelo cineasta palestino Hamdan Ballal, vencedor do Oscar de Melhor Documentário pelo filme Sem Chão. Mas, ao contrário das expectativas de Ballal, a Academia não emitiu qualquer palavra de apoio ao cineasta.
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Nesta quinta-feira, 27, o CEO Bill Kramer e a presidente da Academia, Janet Yang, assinaram uma carta para comentar o caso, mas sem mencionar o nome do diretor palestino. “A Academia condena agressões ou sufocamento de artistas por seus trabalhos ou seus pontos de vista”, disseram. No entanto, os executivos da Academia fazem um importante ponderação a fim de deixar claro os limites entre a arte e posicionamentos políticos.
“Estamos vivendo um período de mudanças profundas, marcado por conflito e incerteza – em todo o mundo, nos Estados Unidos, e dentro de nossa própria indústria. Compreensivelmente, nós somos constantemente questionados para falar em nome da Academia em resposta a eventos sociais, políticos e econômicos. Nestas instâncias, é importante notar que a Academia representa quase 11 mil membros de todo o mundo, com pontos de vista únicos.”

O comunicado da Academia é divulgado diante de um clima tenso, mas cercado de dúvidas e contradições. No início desta semana, o cineasta palestino Hamdan Ballal ocupou as manchetes mundiais por conta de sua prisão pelos soldados das Forças Israelenses. De acordo com as denúncias festas por Ballal, ele estava com um grupo de palestinos na vila de Susya, na Cisjordânia, quando foi arrancado à força de seu carro, agredido e logo depois levado para uma prisão israelense.
No mesmo dia, um vídeo divulgado na internet mostrava justamente o contrário. Nas imagens se vê Hamdan Ballal e mais dois homens atacando violentamente colonos judeus, que foram atingidos por pedradas e pauladas.
Leia a carta da Academia traduzida na íntegra:
“Queridos membros da Academia, no coração da missão de nossa Academia está o comprometimento de honrar a excelência nas artes e ciências cinematográficas e conectar o mundo pelo poder do cinema. Nós fazemos isso por nosso trabalho no Oscar, nossas exibições e programas, nossa preservação e esforços educativos, e muito mais. Nós acreditamos profundamente no poder de um filme de iluminar, provocar pensamentos e criar pontes oferecendo uma janela para experiências humanas diversas.
Nós fundamentalmente acreditamos que o cinema tem o poder de levar luz ao público global e ressaltar diferentes perspectivas – e nós encorajamos nossos membros a usar suas artes para tal. A Academia condena agressões ou sufocamento de artistas por seus trabalhos ou seus pontos de vista.
Estamos vivendo um período de mudanças profundas, marcado por conflito e incerteza – em todo o mundo, nos Estados Unidos, e dentro de nossa própria indústria. Compreensivelmente, nós somos constantemente questionados para falar em nome da Academia em resposta a eventos sociais, políticos e econômicos. Nestas instâncias, é importante notar que a Academia representa quase 11 mil membros de todo o mundo, com pontos de vista únicos.
Nós estamos, entretanto, unidos para compartilhar a crença na importância da narrativa, nos valores da empatia, e no papel do filme como catalisador. Como organização, nosso foco continua sendo na celebração de vozes criativas que compõem a comunidade global de cinema – e apoiar sua liberdade para criar, desafiar e imaginar.
Nós continuamos firmes neste trabalho, e somos gratos de caminhar ao lado de todos vocês nessa jornada.”
Bill Kramer e Janet Yang
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