O vereador Rafael Satiê (PL), único homem negro da bancada do partido e presidente da Comissão de Combate ao Racismo da Câmara do Rio, foi alvo de ataques racistas vindos da galeria durante a sessão que aprovou o armamento da Guarda Municipal nesta terça-feira, 15.
Enquanto discursava a favor da proposta, um grupo de manifestantes contrários à medida passou a gritar “capitão do mato” em sua direção. Satiê reagiu imediatamente e apontou para os agressores: “Isso é racismo, senhoras e senhores!”, denunciou.
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Indignado, o vereador afirmou que os ataques tinham como objetivo “cancelar” sua atuação por ser preto e conservador: “Estão chamando o preto de capitão do mato”, declarou. “Isso tem condenação no Supremo Tribunal Federal. Querem me cancelar? Cancelem quem nasceu na favela do Jacarezinho. Eu nasci cancelado!”
A expressão usada tem carga racista: no período colonial, capitães-do-mato — muitos deles negros — reprimiam violentamente escravizados fugitivos. Usada como xingamento, a frase teve o claro intuito de deslegitimar lideranças negras, especialmente de posicionamento político conservador.
O ataque ocorreu depois de Satiê defender que a Guarda é majoritariamente formada por pretos e pardos. “Dizer que ela vai sair por aí oprimindo preto e pobre é uma distorção”, afirmou o parlamentar. A sessão precisou ser paralisada pelo presidente da Casa, Carlo Caiado (PSD), e agentes de segurança foram acionados para conter os ânimos.
Vereador de primeiro mandato, Satiê foi eleito por 13 mil votos com a promessa de pautar segurança pública, combate ao racismo e educação financeira. “Sou presidente da Comissão de Combate ao Racismo, sou preto e conservador, e não vou me calar”, concluiu, do alto da tribuna.
“Não abaixei a cabeça para esses militantes”, diz vereador
Durante entrevista ao Jornal da Oeste nesta quarta-feira, 16, Satiê detalhou o episódio. O embate se acirrou quando integrantes de partidos de esquerda passaram a utilizar argumentos ideológicos para se opor à proposta. Um vereador do PT teria afirmado que a Guarda usaria armas “somente contra pobre, preto, favelado e trabalhador”.
Em resposta, Satiê apresentou dados sobre a composição da corporação: “Grande parte do contingente da guarda municipal é composto por pretos e pardos”, argumentou. “O comandante-geral da guarda municipal do Rio de Janeiro é preto retinto.”
O vereador relatou que, depois de sua intervenção, foi alvo de uma série de insultos de teor racista por parte de manifestantes presentes, identificados por ele como apoiadores do PT e do Psol.
“Em um coro de mais de 20, 30 pessoas, cantaram ‘Capitão do Mato’”, ressaltou. “Capitão do Mato, uma expressão que nós da direita, pretos, conservadores, já estamos habituados a ouvir. Mas ser habituado a ouvir não significa que não configura crime. É racismo”.
Para Satiê, os ataques ultrapassaram o debate político e atingiram sua dignidade pessoal. “No plenário, não abaixei a cabeça para esses militantes”, disse. “Não fiquei com medo, muito menos me vitimizei. Tratei isso de peito aberto e fui para cima deles”.
“Não tenho orgulho da minha cor, eu tenho orgulho de quem eu sou”, disse o vereador. “A minha mãe me ensinou assim e é dessa forma que nós vamos combater o racismo.”
O vereador também criticou duramente setores do movimento negro e da militância progressista, que, segundo ele, praticam um “racismo disfarçado” ao tentar impor uma visão única sobre os negros.
“Eu gosto do racista com a arma apontada na minha cara, porque eu sei quem ele é, diferente da militância preta que diz ser antirracista, quando na verdade eles são os maiores racistas que querem prender os pretos na senzala ideológica”, denunciou.
Em resposta aos ataques, Satiê registrou boletim de ocorrência em uma delegacia especializada e declarou que moverá ações judiciais contra os envolvidos. “Crime inafiançável, porque é racismo”, disse. “Todos eles me encontrarão de frente com o juiz.”
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