O mundo amanheceu nesta segunda-feira, 21, com a notícia da morte do Papa Francisco, aos 88 anos, em Roma. O pontificado dele durou 12 anos e deixou marcas profundas na Igreja Católica. Além de suas ações pastorais, Francisco também ofereceu um retrato íntimo de si mesmo por meio da autobiografia Esperança, lançada em dezembro de 2024. No livro, rompeu com o tom institucional e revelou o homem por trás da figura papal.
Francisco não escreveu essa obra sozinho. Ele contou com a colaboração do jornalista Carlo Musso, editor de livros anteriores do papa. Inicialmente, a ideia era publicar Esperança apenas depois de sua morte. Mas a decisão mudou. Musso explicou que o Jubileu de 2025 e o cenário contemporâneo levaram Francisco a optar pela publicação em vida. No relato, o papa se apresenta como “um pecador a quem o senhor olhou com misericórdia” e compartilha lembranças pessoais, decisões difíceis e episódios pouco conhecidos.
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O texto também mostra os bastidores da eleição papal em 2013. Francisco revelou que não esperava ser escolhido. Atribuiu sua eleição ao discurso feito nos encontros preparatórios do conclave, onde defendeu uma Igreja aberta às periferias — tanto sociais quanto espirituais. Quando questionado por outro cardeal se aceitaria a responsabilidade, respondeu com prudência: “Hoje, neste momento da Igreja, nenhum cardeal pode dizer não.”
Trechos do livro revelam seu estilo simples e direto. Recusou a calça branca sob a batina e brincou ao dizer que não queria parecer um sorveteiro. Francisco também relembrou encontros com líderes internacionais. Esteve com Vladimir Putin, Volodymyr Zelensky, Mahmoud Abbas, Shimon Perez e Aiatolá Al-Sistani. Na visita ao Iraque, soube de ameaças contra sua vida. Mesmo assim, escolheu continuar a viagem e afirmou que precisava ir ao encontro do “avô Abraão”, figura simbólica comum às três grandes religiões monoteístas.

Francisco evitou abordar certos temas com profundidade. Não incluiu nenhuma reflexão sobre o aborto. Mencionou a homossexualidade de forma breve. Reafirmou que homossexuais e transexuais são filhos de Deus e merecem o batismo. No entanto, não comentou a oposição firme que manifestou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ainda como cardeal na Argentina. Na época, enfrentou a então presidente Cristina Kirchner.
Trechos do livro revelam um lado mais humano do papa
Alguns trechos revelam um lado mais humano. Quando criança, apaixonou-se por uma menina do bairro de Flores, reduto italiano em Buenos Aires. Escreveu-lhe uma carta com o desenho de uma casa branca. Imaginava que morariam juntos. A mãe da garota, porém, o expulsava com uma vassoura sempre que ele se aproximava. Já na juventude, o gesto mais íntimo com uma mulher foi um tango dançado em Palermo.
A passagem pelo Iraque, em 2021, deixou uma cicatriz emocional. Francisco descreveu Mossul como uma cidade ferida. Viu do alto, ainda no helicóptero, um mar de ruínas. Um dos locais mais antigos do mundo, símbolo de convivência entre culturas, havia se tornado a capital do ódio durante o domínio do Estado Islâmico. A missão dele ali não era apenas protocolar. Queria estar com aqueles que sofreram. Quis honrar o sonho frustrado de João Paulo II, impedido por Saddam Hussein de visitar o país no ano 2000.
Mesmo com alertas do serviço secreto sobre tentativas de atentado, ele aterrissou em Bagdá no dia anterior à visita a Mossul. Recebeu a notícia de que uma mulher-bomba se aproximava da cidade. Outro alerta apontava um furgão com o mesmo objetivo. Francisco manteve a agenda. Participou de reuniões no palácio presidencial e visitou a catedral sírio-católica Sayidat al-Nejat, onde 48 pessoas foram assassinadas em 2010. Também se encontrou com líderes religiosos em Ur, onde ficariam as ruínas da casa de Abraão. Ali, cristãos, muçulmanos e yazidis compartilharam a mesma tenda, em sinal de paz e unidade.
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