O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, deixou o cargo nove dias depois da Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagrarem uma operação que revelou um esquema bilionário de fraudes envolvendo descontos indevidos nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS.
A decisão foi tomada depois de uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, na última sexta-feira, 2. A saída de Lupi ocorre em meio a forte desgaste político e críticas de setores do governo que passaram a considerar sua permanência insustentável, sobretudo pela demora em reagir às denúncias.
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Segundo a PF, entidades associativas investigadas receberam cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 a partir desses descontos, embora ainda não se saiba exatamente quanto desse montante foi obtido de forma irregular.
O caso levou ao afastamento do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, por ordem judicial. Dias depois, Lula demitiu Stefanutto oficialmente do cargo.

Depois de uma audiência na Comissão de Previdência da Câmara, Lupi reconheceu que tinha conhecimento prévio da situação. Ele disse que “sabia o que estava acontecendo”, sem detalhar as providências que teria tomado.
Lupi já tinha sido demitido no governo Dilma
A crise remete ao desgaste político que Lupi enfrentou em 2011, quando também foi forçado a deixar o governo petista. Na época, sob a presidência de Dilma Rousseff, ele chefiava o Ministério do Trabalho e se viu envolvido em uma série de denúncias de irregularidades administrativas.
O presidente do PDT acabou pedindo demissão depois da recomendação da Comissão de Ética Pública da Presidência. As acusações incluíam o acúmulo de dois cargos públicos entre 2000 e 2005 e a atuação como funcionário fantasma da Câmara dos Deputados.
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Além disso, Lupi foi acusado de ter utilizado um avião alugado por um empresário que viria a obter contratos com o Ministério do Trabalho. O caso foi revelado apenas dois anos depois, em 2011, com a divulgação de uma foto de Lupi desembarcando da aeronave no Maranhão.
Apesar dos escândalos, Lupi manteve-se como presidente nacional do PDT desde 2004, ano da morte de Leonel Brizola. Em 2023, foi indicado ao Ministério da Previdência no terceiro mandato de Lula, com o apoio de Ciro Gomes, de quem foi aliado na eleição presidencial de 2022.
A nomeação no Ministério da Previdência Social
A nomeação de Lupi foi acompanhada da missão de reduzir a fila do INSS, promessa de campanha de Lula. No entanto, os números não evoluíram como esperado. Ao final de 2024, havia mais de 2 milhões de requerimentos sociais e previdenciários pendentes. A meta de análise em 30 dias também foi descumprida — em dezembro, o tempo médio de espera era de 46 dias.
Durante sua gestão, Lupi também tentou por diversas vezes reduzir o teto de juros do empréstimo consignado dos aposentados, medida que causou atrito com o setor bancário e, em alguns momentos, levou à suspensão da oferta de crédito.
A crise de 2025 acabou por repetir o padrão de sua saída anterior: denúncias de má gestão, desgaste público e pressões internas que tornaram sua permanência insustentável.
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Veja a linha do tempo das polêmicas
2000-2006
- Acusado de acumular cargos públicos e de atuar como funcionário fantasma da Câmara dos Deputados.
2004
- Assume a presidência nacional do PDT depois da morte de Leonel Brizola, tornando-se a figura central do partido.
2007
- É nomeado ministro do Trabalho pelo então presidente Lula.
2009
- Usa avião fretado por empresário ligado a ONGs com contratos com o Ministério do Trabalho — caso revelado apenas em 2011.
2011
- Crise explode: Lupi é acusado de irregularidades administrativas e uso indevido de transporte.
- A Comissão de Ética Pública recomenda sua demissão.
- Ele renuncia dizendo sair com a “consciência tranquila”.
2015
- Critica publicamente o PT durante o governo Dilma: “O PT exauriu-se, esgotou-se, roubaram demais.”
2023
- Retorna ao governo como ministro da Previdência no terceiro mandato de Lula, com apoio de Ciro Gomes.
- Lula encarrega Lupi de reduzir a fila do INSS.
2024
- A fila do INSS chega a 2 milhões de pedidos; meta de análise em 30 dias é descumprida.
- Tentativas de reduzir os juros do consignado geram tensão com bancos.
Abril de 2025
- PF e CGU revelam fraudes de R$ 6,3 bilhões em descontos indevidos em aposentadorias e pensões.
- Lupi admite que “sabia o que estava acontecendo” no INSS.
- Depois de reunião com Lula na sexta-feira 2, deixou o cargo de ministro da Previdência sob forte desgaste político.
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