Maior companhia aérea privada em operação no Brasil, a Latam anunciou recentemente que vai ampliar em quase meio milhão o número de assentos para passageiros. A empresa espera atingir esse objetivo até agosto deste ano, em razão de cinco novas rotas domésticas a partir de Brasília. Se de um lado a medida pode favorecer o consumidor, por outro, representa um novo problema no plano de voo da Força Aérea Brasileira (FAB).
Não bastassem o baixo investimento governamental e o uso da sua estrutura para interesses particulares de autoridades políticas e do Judiciário, a FAB convive com uma crescente perda de pilotos. Conforme reportagem do site Aeroin, mais uma turma de novos profissionais formados pela Latam tem em seus quadros, na maioria, aviadores egressos da FAB.
FAB vive períodos de ‘fluxo migratório’
No final de 2024, seis militares experientes — e que ‘custaram caro’ ao país em termos de formação — deram adeus à carreira militar e ingressaram na aviação comercial, o que não é novidade nem surpresa, devido à falta de atratividade das Forças Armadas. No fluxo migratório do público para o privado, a turma de seis pilotos de caça deixou a FAB depois que a Latam Brasil os aprovou numa seleção com vistas à expansão da malha.
O clima de ‘o último que sair apaga a luz’ mal se foi e surge agora mais um lote de transferências. Segundo a Aeroin, oito novos aviadores militares se desligaram da FAB e iniciaram, entre abril e maio deste ano, o curso de copiloto para aeronaves da família Airbus A319/A320/A321. Dos oito, só um era da aviação de caça. Os demais atuavam na aviação de transporte.
Aviação comercial paga o dobro do que a militar
Fontes próximas à companhia aérea relatam que os motivos para a transição continuam os mesmos: busca por melhor qualidade de vida, estabilidade de residência, mais horas de voo e salários significativamente mais altos. Essa diferença financeira, aliás, em alguns casos chega a ser de 100%. Enquanto um piloto de caça, nível avançado, recebe cerca de R$ 20 mil por mês, um comandante da aviação comercial, para voos internacionais de longo percurso, leva para casa de R$ 40 mil a R$ 50 mil.
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Sem perspectivas claras de progressão na carreira e restritos a funções operacionais, muitos aviadores enxergam o Grupo de Transporte Especial (GTE), sediado em Brasília, como a única possibilidade de avanço. No entanto, a proposta não é tão convidativa. O GTE, responsável pelo transporte do presidente da República e de outras autoridades, é visto como menos operacional e oferece voos semelhantes aos de uma companhia aérea, como a própria Latam.
A exigência de convívio diário com a classe política é um fator que, da mesma forma, incomoda. Muitos aviadores relatam constrangimento em servir de “motorista de político”, principalmente tendo que conduzir figuras públicas com histórico criminal. Assim, é comum que militares do GTE desconversem sobre sua função, até mesmo na família.
Com a entrada da nova turma na Latam, a FAB soma 14 baixas em menos de seis meses. Conforme especialistas, esse número é suficiente para comprometer a operação de um esquadrão inteiro, caso todos pertencessem à mesma unidade. Para efeito de comparação, a turma mais recente da Academia da Força Aérea, formada em 2024, contou com a graduação de 107 cadetes aviadores.
Um mau negócio para o Brasil
Se não fosse um órgão do espaço aéreo brasileiro, a FAB poderia ser facilmente classificada como um péssimo negócio. Afinal, o governo consome cerca de R$ 2 milhões para lapidar um piloto. A iniciativa privada o faz, considerando suas necessidades particulares, com um desembolso de R$ 200 mil a R$ 300 mil. No final, não é preciso calculadora para entender o que está acontecendo.
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