Quem é e o que esperar do novo papa? – Primeiras impressões

Robert Francis Prevost é o novo papa, Leão XIV. Na última quinta-feira, descobrimos o novo sucessor de São Pedro, o dono do trono que representa o mais alto cargo eclesiástico do mundo cristão. Prevost era até então um ilustre cardeal desconhecido, e em poucas horas — quiçá, minutos — tornou-se o centro das atenções midiáticas e populares de quase todo o globo após o Habemus Papam.

O eleito trata-se de um homem norte-americano discreto, com forte vocação missionária, equilíbrio teológico e perfil contemplativo e moderador. Religioso da ordem de Santo Agostinho, foi missionário de sua ordem no Peru por quase duas décadas e já esteve no Brasil algumas vezes, e estaria aqui novamente para ministrar um retiro aos bispos brasileiros neste mês, não fosse a convocação do conclave após a morte do papa Francisco. De suas expressões públicas, sabe-se que ele é um profundo conhecedor do Direito Canônico, um homem contemplativo e respeitador da liturgia pré e pós-Concílio Vaticano II. Na mídia europeia, destacou-se ontem também a afirmação de que, entre os atuais cardeais “papáveis” — com menos de 80 anos —, Prevost talvez fosse o único que realmente conseguia dialogar com conservadores e progressistas dentro do Vaticano.

Seu nome já esteve ligado a escândalos de abusos sexuais nos Estados Unidos e no Peru, onde foi acusado pela mídia progressista de acobertamento dos casos. No entanto, documentos oficiais sugerem que o então “prelado agostiniano” atuou nos bastidores do ocorrido a fim de apoiar as vítimas e denunciar abusadores à Justiça Civil. Obviamente que podemos esperar a exploração e espetaculização midiática desse fato.

Novo papa: o que esperar

O que esperar de seu pontificado? Ninguém sabe ao certo — nem mesmo os especialistas que agora se apressam em opinar. Porém, podemos notar alguns indicativos, como o nome pontifício “Leão XIV”, que sugere uma linha doutrinal mais conservadora, focada em problemáticas geopolíticas e espiritualidade contemplativa, tal como se preocupou o outro Leão, o XIII. Papa Leão XIII foi um firme opositor da infiltração ideológica na Igreja e combateu diversos totalitarismos ao redor do mundo, escrevendo as formidáveis Rerum Novarum e Libertas, encíclicas que, ao mesmo tempo que criticavam ideologias e denunciavam o abandono global das diretrizes de dignidade humana, cobravam dos líderes de Estado uma postura política equilibrada e moralmente sã. É bem verdade, no entanto, que em seu discurso inaugural Leão XIV alinhou-se mais ao tom missionário e reformista de papa Francisco, defendendo uma “Igreja sinodal” com enfoque na justiça social.

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Em sua primeira missa como papa, por sua via, na manhã da última sexta-feira, 9, Leão XIV foi espiritualmente reflexivo e pouco envergado a temas de consciência social durante a homilia; manteve em toda a sua fala um forte pendor espiritual e de convite à coerência cristã de pregação do Evangelho e sua consequente prática efetiva, refletindo também sobre a missão petrina do papado. O que, para mim, inicialmente, soa como forte indicativo de uma administração menos voltada à militância político-teológica de Francisco, e de uma tendência de reespiritualização do pontificado. Sua primeira postura litúrgica também é mais alinhada à tradição do que foi com seu antecessor, tanto quanto à vestimenta, orações latinas e postura eclesial de celebração, como com a já referida homilia.

Em um trecho de sua primeira pregação que agora destaco, é possível ver no novo papa um evidente rastro agostiniano, tradicional, de uma eclesiologia genuinamente católica, fundada na crença de que a Igreja tem a missão de guiar o mundo moderno, de ser refúgio seguro e também farol infalível que ilumina as nações e suas decisões:

“E Deus, de modo particular, chamando-me através do vosso voto a suceder ao primeiro dos Apóstolos, confia-me este tesouro para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador em benefício de todo o corpo místico da Igreja; para que ela seja cada vez mais a cidade colocada sobre o monte, arca de salvação que navega sobre as ondas da história, o farol que ilumina as noites do mundo”.

Por fim, com base na trajetória conhecida do padre, bispo e cardeal Prevost, parece-me que estamos diante de um verdadeiro diplomata eclesiástico, conciliador, disposto a buscar a unidade da Igreja e o afastamento Dela de disputas ideológicas desnecessárias — ao contrário do papa Francisco, que parecia buscar isso a todo custo, a cada comentário e entrevista que dava. Porém, é também um decidido papa doutrinal e contemplativo, cujas principais características de sua formação teológica agostiniana fundem-se na crença de uma Igreja Celeste, cujo sacerdócio deve ser realizado de modo intelectualmente certeiro e corajoso, e a necessidade missionária de aproximação do rebanho. Se houvesse um “centrão” na Igreja Católica, poderíamos dizer que, novamente, pelo que se sabe até agora, Leão XIV é de centro, mas com tendências litúrgicas e eclesiais conservadoras, aliado, paradoxalmente, com um forte pendor missionário mais progressista.

Assim, ao que parece, os conservadores não devem esperar uma predileção pelo tradicionalismo pré-Concilio Vaticano II; e aos progressistas, tampouco se deve esperar um “papa Francisco 2.0” ou um papa tresloucado com uma teologia ideológica. Nas primeiras impressões, parece-me que Leão XIV veio para frustrar os politólogos de anel de tucum e também os “Zé cruzadinha”. Temos um pontífice visivelmente pouco inclinado a polêmicas baratas e confrontos ideológicos desnecessários.

Isso é bom ou ruim? Não se sabe — só o tempo dirá. Independentemente disso: salve Pedro, salve Leão XIV.

Leia também: “Um pontífice além de rótulos”, artigo de Ana Paula Henkel publicado na Edição 268 da Revista Oeste

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