Fraude no INSS: associações pagaram mais de R$ 100 milhões a empresas de consignado

A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no mês passado, escancarou um esquema bilionário que envolve associações ligadas ao INSS e empresas de crédito consignado. O centro da fraude: repasses que somam ao menos R$ 110 milhões, transferidos por essas entidades a companhias privadas que operavam empréstimos para aposentados. A investigação provocou a queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

O modelo do esquema combinava filiações forçadas de aposentados a clubes de benefícios e repasses diretos às empresas responsáveis pela intermediação dos empréstimos. A cada aposentado “filiado”, as entidades associativas descontavam mensalidades diretamente da folha e pagavam comissões robustas às operadoras dos consignados — mesmo sem consentimento dos segurados.

📌O esquema no INSS

O que aconteceu?
Entidades ligadas ao INSS forçavam aposentados a se filiar a “clubes de benefícios” e repassavam parte dos descontos a operadoras de crédito.
Valor desviado: R$ 110 milhões.

🏛️Quedas no governo

Demitidos:
Alessandro Stefanutto (INSS) e Carlos Lupi (Previdência).
Motivo: Conivência ou omissão diante das fraudes.

🧾Propina

Contrato:
100% da 1ª mensalidade e 21% das demais iam direto para empresas de consignado.

🧑‍💼Personagens-chave

Américo Monte: presidente da Amar Brasil.
Monte Jr.: recebeu R$ 25 mi.
Camisotti: controla 3 entidades.
Menocchi: ex-BMG, ligado a repasses.

📈Os números da fraude no INSS

• R$ 110 mi repassados a empresas privadas
• 9 mi de aposentados prejudicados
• 480 mil filiações coincidentes com empréstimos
• R$ 2 bi em descontos em 2024 (triplicou)

🚫Reação

Bloqueio total: suspensos novos descontos de consignado.
Notificações: 9 milhões de segurados serão alertados para possível ressarcimento.

A Amar Brasil Clube de Benefícios, presidida por Américo Monte, é uma das principais envolvidas. Desde 2022, a entidade movimentou cerca de R$ 325 milhões, dos quais R$ 25 milhões foram repassados diretamente a uma empresa do filho do presidente, Américo Monte Jr. Outras companhias ligadas à família Monte também receberam quase R$ 55 milhões em contratos similares.

O envolvimento familiar não parava por aí. Monte Jr. já foi investigado sob acusação de operar um esquema de falsificação de assinaturas de aposentados. A denúncia incluía até um vídeo — jamais localizado — com instruções dadas por Micaela Magalhães, filha de Monte Jr. e neta de Monte.

+ Enganados pelo INSS

Também figuram no esquema as entidades Ambec, Unabrasil (ou Unsbras) e Cebap, responsáveis por R$ 580 milhões em descontos nos contracheques de aposentados desde 2022. Todas são controladas por Maurício Camisotti, empresário do setor de planos de saúde e seguros. Documentos da PF mostram que empresas associadas a Camisotti transferiram pelo menos R$ 15 milhões a companhias de Hebert Menocchi, ex-gerente do BMG.

As entranhas do escândalo no INSS

As investigações revelam que a Ambec e a Cebap pagaram quase R$ 7 milhões e R$ 8 milhões, respectivamente, às operadoras dos consignados. Contratos examinados pelos investigadores mostram cláusulas explícitas que garantiam 100% da primeira mensalidade descontada dos aposentados e 21% das seguintes como remuneração pelas filiações “facilitadas”.

A prática se espalhou com rapidez. Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) mostrou que as mensalidades associativas descontadas da folha dos aposentados triplicaram em um ano — passando de R$ 650 milhões, em 2023, para R$ 2 bilhões, em 2024. Ao menos 480 mil filiações coincidiram com a data de contratação de empréstimos, o que levanta suspeitas sobre a legalidade da vinculação.

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Embora o TCU tenha ponderado que a mera coincidência de datas não configura automaticamente venda casada, o volume e a repetição do padrão reforçam os indícios de irregularidade sistêmica.

Diante da pressão, o novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, determinou o bloqueio imediato de novos descontos de consignado para todos os segurados, em linha com recomendações do TCU. O INSS também anunciou que 9 milhões de aposentados afetados por descontos indevidos começarão a ser notificados para possível ressarcimento.

Leia também: “Engrenagem da corrupção”, reportagem de Silvio Navarro publicada na Edição 267 da Revista Oeste

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