As regalias de Ancelotti na seleção brasileira

A missão do italiano Carlo Ancelotti, 65 anos, anunciado nesta segunda-feira, 12, como treinador da seleção brasileira, o tornou o técnico mais bem pago do futebol no Brasil. O estilo calmo, a elegância estampada no terno bem cortado e nos cabelos grisalhos penteados para o lado, são um sinal de que, por onde passa, Ancellotti, deixa como marca o cuidado e o zelo com detalhes. A seriedade está estampada em seu estilo.

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O salário mensal de Ancellotti, de R$ 5 milhões, ultrapassará o do técnico mais bem pago no país, que, não por coincidência, é de outro estrangeiro, o português Abel Ferreira, do Palmeiras. Segundo o jornal Lance, Abel recebe R$ 3 milhões por mês.


Além disso, Ancelotti receberá bônus de 5 milhões de euros caso o Brasil vença a Copa do Mundo de 2026; aluguel de uma casa de luxo no Rio de Janeiro; carro blindado; seguro de vida; equipe de segurança particular; plano de saúde internacional e um jato à disposição, alugado pela CBF, caso o treinador deseje ir em algum momento para a Europa.

Por décadas, o futebol brasileiro, tamanha a criatividade de seus atletas, possibilitou que o improviso superasse a carência de organização, o senso tático, a estratégia. Chegou uma época em que essa autossuficiência se esgotou.

Um recurso na tentativa de recolocar a seleção brasileira no topo foi fazer o caminho de volta. Trazer a expertise europeia, com o técnico Carlo Ancelotti para delinear e organizar o que o futebol brasileiro ainda tem: o talento.

A origem da ideia de trazer Ancelotti

A ideia de contratar Ancelotti, um excelente meio-campista em seus tempos de jogador, surgiu de uma conversa entre o presidente Ednaldo Rodrigues, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e o apresentador e narrador Galvão Bueno.

Em seu programa Galvão e Amigos, no último dia 29 de abril, na Band, Galvão contou que sua sugestão ocorreu na véspera do jogo entre Brasil e Coreia do Sul, no Catar, pelas oitavas de final da Copa do Mundo de 2022, naquele país.

“O presidente da CBF me convidou para um almoço antes do jogo contra a Coreia”, contou Galvão. “Aceitei por educação e ficamos conversando por um tempo. De repente, ele vira e diz”, continua o apresentador, repetindo o que ouviu de Ednaldo.

“Nesse almoço, eu queria aproveitar também para saber sua opinião sobre quem deveria ser o técnico da seleção”, disse Ednaldo a Galvão.

“Eu respondi”, prosseguiu Galvão. “Respondo, mas antes me diga uma coisa: o treinador vai ser brasileiro ou estrangeiro?”

“Ele disse”, acrescenta Galvão, sobre Ednaldo. “Estou pensando em um estrangeiro.”
Galvão, então, emendou; “Então falei direto: Carlo Ancelotti. E já avisei”, continuou Galvão, sobre o alerta feito a Ednaldo.

“Mas deixa eu te dizer uma coisa: se você for tentar convencer o Ancelotti com dinheiro, ele não vem”, afirmou o apresentador. “Ele não vai pedir demissão do contrato dele com o Real Madrid por causa de dinheiro.”

Galvão deu ainda a alternativa para convencer o técnico italiano.

“Tem uma única forma de trazê-lo: coloca o Falcão na CBF, como diretor”, disse Galvão a Ednaldo. “Aí o Falcão vai conversar com ele e dizer: ‘Carletto, nós conquistamos tudo no futebol. A única coisa que nos falta é sermos campeões do mundo. Nem você, nem eu conseguimos isso. Vamos encarar esse desafio juntos?’ Tenho certeza de que ele viria com essa abordagem.”

O apresentador, porém, disse que a conversa caminhou para o encerramento.

“Mas aí o presidente me respondeu ‘ah não… vamos botar alguém mais novo, porque o Falcão já está meio velho.’ E aí eu pergunto: E o que a gente está fazendo aqui, o que eu estou fazendo aqui, então?”

No mesmo instante, Falcão, que participava do programa, disse: “Está cheio de novo por aí… errando.”

A conversa entre Galvão e Ednaldo não terminou tão bem, conforme se vê. Mas, apesar da antipatia demonstrada por Galvão em relação ao atual presidente, a ideia semeou a iniciativa de Ednaldo de buscar Ancelotti, sem Falcão.

A CBF, que teve receita de R$ 1 bilhão em 2023, segundo reportagem da Revista Piauí, resolveu investir alto em Ancelotti. Ele é o único técnico da história a conquistar títulos das cinco principais ligas nacionais da Europa.

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Ancelotti venceu o Campeonato Italiano (Serie A) com o Milan na temporada 2003–04; a Premier League inglesa com o Chelsea em 2009–10; a Ligue 1 francesa com o Paris Saint-Germain em 2012–13; a Bundesliga alemã com o Bayern de Munique em 2016–17; e a La Liga espanhola com o Real Madrid em duas ocasiões, nas temporadas 2021–22 e 2023–24.

Ele também foi por cinco vezes campeão da Champions League: duas com o Milan (2002-03 e 2006-07) e três com o Real Madrid (2013-14, 2021-22 e 2023-24).

É esse o caminho de volta, feito em outras ocasiões em clubes, com a influência de técnicos como o paraguaio Fleitas Solich (décadas de 1950 e 1960) e os húngaros Dori Kruschner (década de 1940) e Bella Guttmann (década de 1950).

Todos estes dirigiram clubes. Guttmann inclusive, no São Paulo, por onde foi campeão estadual em 1957, influenciou o treinador Vicente Feola na organização tática da seleção brasileira campeã mundial em 1958. Ambos trabalharam juntos no clube paulista.

Agora, porém, a influência será feita diretamente na seleção brasileira. Por meio de ideias fora de campo. Dentro, elas continuam existindo, se alguém souber organizá-las.

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