O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, elogiou a proposta do governo para o crédito consignado privado — chamado informalmente de “empréstimo do Lula” — e defendeu a iniciativa como alternativa a formas informais de crédito. “Tem muita gente no agiota e muita gente num crédito a 5%, 6%, 7% ao mês”, afirmou em entrevista ao UOL nesta segunda-feira, 12.
No entanto, simulações apuradas por Oeste oferecem taxas de até 5,5% ao mês, o que equivale a cerca de 90,12% ao ano. Outra simulação mostrou que, para um empréstimo de R$ 1 mil a ser pago em 12 meses, o reembolso total seria de R$ 1,2 mil, o que representa uma taxa de juros mensal de 3,04%.
O programa de crédito para trabalhadores do setor privado, com carteira assinada (CLT), ainda está em fase de testes e monitoramento. Haddad admitiu que a medida precisa ser acompanhada com cuidado, mas ressaltou que a intenção é proporcionar melhores condições de acesso ao crédito e reduzir os custos para o trabalhador.
Haddad monitora o consignado
“Estamos derrubando as taxas em 50%”, disse o ministro, que reconheceu relatos de assédio por parte de instituições financeiras, mas ainda sem dados consolidados sobre irregularidades. “Estamos acompanhando de perto e com cuidado, porque é uma novidade.”
Perguntado sobre possíveis abusos no novo modelo, Haddad destacou que o programa está sob a responsabilidade do Ministério do Trabalho, mas que a Fazenda acompanha o processo. “Quanto mais informações nós recebemos da imprensa e do cidadão, pelos canais que estão abertos, melhor”, declarou.
O tema do crédito veio à tona em meio à repercussão do escândalo de fraudes no INSS, que envolveu descontos indevidos de aposentados por associações de classe e sindicatos. Um dos sindicalistas citados na investigação é Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fraudes reacendem alerta de risco
Embora tenha reforçado que o crédito consignado é um mecanismo distinto e regulado pelo sistema bancário, Haddad reconheceu a necessidade de atenção. “Pode vir a ser [um novo escândalo], se nós não tomarmos as providências devidas”, disse.
Durante a entrevista, o ministro também comentou o impacto dos juros elevados no cenário econômico. A taxa Selic, atualmente em 14,75% ao ano, foi classificada por ele como “altíssima” — desde a posse de Gabriel Galípolo como presidente do Banco Central, a taxa subiu 2,5 pontos porcentuais.
“O Brasil, historicamente, pratica uma das taxas de juros reais mais elevadas do mundo”, afirmou. Apesar disso, Haddad se mostrou confiante no crescimento econômico: “Penso que esse ano, mesmo com juros altos, vamos crescer alguma coisa em torno de 2,5%”.
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Juros altos, otimismo mantido
A entrevista abordou ainda a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. Haddad afirmou que a medida deve beneficiar cerca de 15 milhões de pessoas e cobrou celeridade do Congresso. “Essa proposta tinha que ser aprovada em 15 dias, na minha opinião, de tão justa que ela é”, avaliou.
Sobre o escândalo das fraudes no INSS, o ministro afirmou que a Controladoria-Geral da União (CGU) agiu corretamente ao encaminhar o caso à Polícia Federal. Haddad explicou que, mesmo com a gravidade dos fatos, o governo não poderia intervir diretamente na condução das investigações.
“A partir do momento que a polícia federal está envolvida, não se trata mais de um governo, é uma instituição de Estado”, disse o ministro, ao reforçar que é necessário ressarcir os aposentados lesados. “Temos que saber exatamente o valor da fraude e temos que saber se os valores bloqueados das associações pagam.”

Haddad cobra isenção e justiça fiscal
O ministro também foi perguntado sobre a posição do Brasil diante da disputa comercial entre Estados Unidos e China. Haddad defendeu uma postura multilateral e destacou a importância das parcerias com ambos os países. “O Brasil sabe que, para se desenvolver, precisa de bons acordos comerciais com a Ásia, Europa e EUA”, disse.
Sobre política, Haddad desconversou sobre uma possível candidatura à Presidência em 2026. Ele reafirmou que a prerrogativa da reeleição é do presidente Lula e que não pensa em disputar cargos eletivos no momento. “Estou com afazeres bastante importantes, estou focado naquilo.”
Ao final, Haddad reiterou seu compromisso com a responsabilidade fiscal e a busca por crescimento com distribuição de renda. “Estamos no melhor momento de distribuição de renda da nossa história recente”, alegou. “Penso que nós vamos entregar um país melhor do que nós recebemos, isso aí não tem a menor dúvida.”
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