“Nem só de pão vive o homem”, diz a citação bíblica sobre a fé — que poderia ser perfeitamente aplicada ao apetite chinês pelos produtos brasileiros. Para se manter relevante, a China compra muito mais do que comida do Brasil. Com as importações, o gigante vermelho garante boa parte das matérias-primas necessárias para sustentar seu ponto mais estratégico: a indústria. E o nióbio é um dos maiores símbolos dessa dependência.
A mineração brasileira é responsável por quase toda a oferta mundial de nióbio. Trata-se de um mineral com características tão extraordinárias quanto imprescindíveis para a indústria chinesa.
Por que a China (e o mundo) precisam do nióbio do Brasil?
Uma das principais propriedades do nióbio é aumentar consideravelmente a resistência do aço, por meio da adição de uma liga conhecida como ferronióbio. Peças com esse componente ficam mais leves e suportam cargas maiores — uma vantagem fundamental para a fabricação de uma enorme variedade de produtos. O leque vai desde vergalhões para construção civil e chassis de caminhões e carros até itens mais sofisticados, como turbinas de avião e hélices de navio. Ou seja: sua utilidade cobre terra, ar e mar. E não para por aí.
O mineral também é a base para a produção de um componente chamado óxido de nióbio — um pó branco, semelhante à farinha de trigo. Ele é utilizado principalmente em baterias, que ganham desempenho extra com sua adição.

De acordo com a CBMM, principal empresa do setor, “as baterias de íons de lítio com nióbio têm tantas vantagens que se tornaram essenciais para impulsionar o crescimento da eletrificação no mundo”. Segundo a companhia, o componente aumenta a vida útil das baterias, amplia a capacidade de armazenamento e permite carregamento ultrarrápido — “em menos de 10 minutos”.
Além disso, os supercondutores feitos com nióbio também vêm sendo aplicados no setor de saúde, especialmente em aparelhos de ressonância magnética. Com esse recurso, os equipamentos geram “imagens de alta qualidade para diagnósticos confiáveis e não invasivos”.
Todavia, o nióbio não é o único mineral do Brasil que se destaca na indústria chinesa. Outro exemplo é o minério de ferro — algo que os chineses pouco têm, mas de que muito precisam.
Ferro do Brasil na China
Ao longo de 2024, os chineses consumiram 1,2 bilhão de toneladas de minério de ferro, mas menos de 25% vieram da própria produção. Para seguir com as exportações do mix que vai de rústicos martelos a sofisticados carros elétricos, o gigante depende do mercado externo para se abastecer da matéria-prima mais essencial à produção de aço — fundamental para fabricar todos esses produtos. E uma parte considerável desse apetite é abastecida pelos brasileiros.
Por volta de 20% de todas as importações chinesas de minério em 2024 vieram das minas brasileiras. O Brasil tem a segunda maior produção do mineral no planeta (440 milhões de toneladas por ano), perdendo apenas para a Austrália (960 milhões de toneladas) — e, como se não bastasse, há uma dependência ainda mais essencial: comida.
A China precisa do Brasil para ter carne e alimentar a população. A principal fonte de proteína animal da população chinesa é o rebanho suíno.
Os chineses até criam a maior parte desses animais. Contudo, a engorda dos porcos chineses depende de soja para acontecer — e 70% de todo o consumo local do grão é proveniente das roças brasileiras.
Sem as plantações do Brasil, nada de carne para os operários. Sem eles, nada de indústria. E sem as fábricas… será que tem China?
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