A Câmara Municipal de São Paulo decidiu criar uma curadoria para avaliar previamente exposições artísticas em suas dependências depois de uma controvérsia sobre uma obra que representa a ativista de esquerda Marielle Franco como Nossa Senhora das Dores.
A imagem integra a mostra “Mulheres que resistem à violência de Estado – ontem e hoje”, da artista Maria Mendonça. A medida foi tomada depois de a vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil) denunciar a obra em plenário e classificá-la como ofensiva à fé cristã.
+ Leia mais notícias de Política em Oeste
Durante discurso no plenário da Casa nesta quarta-feira, 21, a vereadora denunciou a existência de “uma imagem da Nossa Senhora das Dores com uma frase de Marielle, como se a Marielle fosse santa”, afirmou. “Não, Marielle não foi santa. Quem diz quem é santo ou não, não é o Psol, não é o PT e não é a esquerda. Quem diz quem é santo é a Igreja Católica.”
A exposição foi organizada com apoio da vereadora Luana Alves (Psol) e instalada no Saguão de Entrada José Mentor, localizado no térreo da Câmara. As obras são de autoria da artista Maria Mendonça e incluem outras figuras femininas, como Carolina Maria de Jesus e Frida Kahlo. A curadoria da mostra foi realizada por um coletivo vinculado à Universidade de São Paulo.
Segundo o edital da exposição, o objetivo da obra que retrata Marielle é homenagear mães de presos políticos e traçar um paralelo entre Maria, mãe de Jesus, e as mulheres que perdem filhos vítimas do Estado. “Maria acolheu Jesus Cristo, que teria sido assassinado pelo Estado”, informa o texto do edital.
Imagem de Marielle como santa gerou reação oficial
A reação de Vettorazzo motivou um requerimento formal encaminhado ao presidente da Casa, Ricardo Teixeira (União Brasil), no qual solicita a retirada da obra. No documento, a parlamentar argumenta que retratar Marielle no lugar de Nossa Senhora “representa claro desrespeito à fé católica”.
O requerimento destaca ainda que “de certo, o problema não está na exposição artística em si, mas sim no desrespeito à fé cristã ao usar um símbolo católico como meio de manifestação política e por descredibilizar a Santíssima Virgem Maria em uma paródia artística exposta em local público”.
Durante sua fala, Vettorazzo enfatizou sua posição religiosa e declarou estar disposta a enfrentar possíveis consequências políticas por sua manifestação: “Eu perco meu mandato, mas eu não perco minha fé cristã”.
Em entrevista ao Jornal da Oeste desta quinta-feira, 22, a vereadora reiterou sua posição: “Ilustrar a Nossa Senhora das Dores com a imagem de Marielle realmente é uma ofensa à minha fé”, declarou. “Solicitei ao presidente da Câmara a retirada imediata dessa exposição, porque ofende à minha fé católica e é uma intolerância religiosa.”
Ela também afirmou ter conversado com Teixeira para implementar medidas preventivas. “Até depois desse ocorrido, conversei com o presidente da Câmara para que tenha uma curadoria”, disse. “É inaceitável que a gente tenha esse tipo de exposição aqui.”
Leia também: “Marielle, ausente”, reportagem de Anderson Scardoelli publicada na Edição 266 da Revista Oeste
O post Vereadora denuncia imagem de Marielle como santa na Câmara de São Paulo apareceu primeiro em Revista Oeste.