As comendas da camarada Janja

No Rio de Janeiro, a mulher do descondenado-em-chefe, Janja da Silva, recebeu das mãos do marido a medalha da Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural, mais alta condecoração da cultura brasileira. É a última de uma série de comendas que lhe têm sido entregues desde o início do regime PT-STF. No lado de fora do evento, em que a Nomenklatura se autocongratulava e premiava méritos inexistentes, servidores ligados ao Ministério da Cultura protestavam contra o regime, denunciando o completo descaso com a pasta.

A recorrente premiação de dona Janja faz lembrar outros casos históricos de regimes ditatoriais, notadamente os de matriz comunista. Na Romênia de Nicolae Ceaușescu, por exemplo, sua esposa Elena recebeu inúmeras honrarias por supostos trabalhos na área da química de polímeros, alegando ter formação pelo Colégio de Química Industrial e pelo Instituto Politécnico de Bucareste. Foi nomeada presidente do principal laboratório de pesquisa em química da Romênia, e seu nome foi colocado como autora em artigos acadêmicos que, na realidade, foram escritos por cientistas romenos. Também presidiu o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Em 1990, ela chegou a ser nomeada vice-primeira-ministra. O poder concentrado pelo casal Ceaușescu levou a Universidade de Bucareste a conceder-lhe um título de doutora em química. O regime também lhe conferiu o título oficial de “a melhor mãe que a Romênia poderia ter”. No mundo real, o povo romeno — a quem ele tratava por “vermes ingratos” — a odiava mortalmente.

Tudo isso me fez recordar o livro Viagens aos Confins do Comunismo, em que o psiquiatra inglês Theodore Dalrymple relata a sua experiência de visitar países que, em 1989, quando o comunismo parecia ruir em sua pátria-mãe, insistiam em manter respirando por aparelhos o regime político (supostamente) terminal. Comparando as realidades de Albânia, Coreia do Norte, Romênia, Vietnã e Cuba, o autor aponta notável capacidade do comunismo de, borrando fronteiras e particularidades nacionais, produzir em toda parte o mesmo tipo de situação social. Daí que, fosse onde fosse, uma mesma característica parecia sobressair sobre a heterogeneidade étnico-cultural. Nas palavras de Dalrymple:

“Tirando os massacres, as mortes e as fomes pelas quais o comunismo foi responsável, a pior coisa do sistema era a mentira oficial, isto é, a mentira de que todos eram obrigados a participar, por repetição, por consentimento ou por não contradizê-la. Cheguei à conclusão de que o objetivo da propaganda nos países comunistas não era persuadir, e muito menos informar, mas humilhar e emascular”.

macron e janja
Macron abraça Janja durante cerimônia no Palácio do Planalto — Brasília, 28/3/2024 | Foto: Cristyan Costa/Revista Oeste

Portanto, a entrega de comendas aos seus camaradas sem mérito — a exemplo de uma medalha de ordem cultural a uma inculta — faz parte do modo comunista de governança. É uma forma de subjugar e humilhar uma sociedade de joelhos. Eis o Brasil contemporâneo, que tem na mentira compulsória a sua familiaridade com os regimes comunistas do passado.

Leia também: “A vida de luxo do casal Lula e Janja”, reportagem publicada na Edição 222 da Revista Oeste

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