Extra, Extra! — Há marcas nessas cartas marcadas

“A concentração de todos os poderes, legislativo, executivo e judiciário, nas mesmas mãos, pode ser justamente chamada de tirania” (James Madison, Federalist Papers 47)

No Globo, a blogueira antibolsonarista Bela Megale informa que “Ministros do STF dão como certa punição de Eduardo Bolsonaro por ações contra Moraes”. Oh! Conte-nos uma novidade, Megale. Tratar isso como notícia equivale a anunciar com alarde que Jack, o Estripador “dá como certa” a degola das vítimas.

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Qualquer brasileiro minimamente informado — e, hoje também, qualquer estrangeiro — sabe que Eduardo Bolsonaro será punido porque o suposto inquérito no qual foi incluído nasceu apenas com essa finalidade: punir. Assim são os julgamentos-espetáculo. Seus articuladores já sabem o resultado de antemão: o resultado que lhes interessa politicamente. Como disse celebremente o juiz stalinista Andrey Vyshinsky: “Deem-me um nome e eu lhes darei o crime.” Ou a Rainha de Copas: “Primeiro a sentença, depois o julgamento.”

Daí que seja mesmo engraçada a confusão entre agente e observador na matéria de Megale. Mandando recadinhos por meio da blogueira antibolsonarista, os tais ministros do STF afetam a posição de observadores externos e comentaristas imparciais que apostam num determinado resultado. Mas se são eles os agentes desse resultado, a postura de opinador especulativo não passa de uma farsa. Que um autodeclarado jornalista se preste a reproduzi-la como notícia é um sinal inequívoco da corrupção institucional brasileira.

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A nítida percepção da farsa, aliás, já transpôs as fronteiras nacionais. Aquilo que eu costumo chamar de “Democracia Inabalada: o espetáculo” — o teatro jurídico-político montado desde fins de 2022 pelo consórcio STF-PT-Globo para extirpar o bolsonarismo da vida política nacional — tem sido um retumbante fracasso de público e crítica. Diante do fracasso, os produtores tornaram a trama cada vez mais apelativa; os atores, cada vez mais canastrões; e o roteiro, cada vez menos verossímil.

Lula e ministros do STF durante cerimônia referente aos atos de 8 de janeiro de 2023, no Palácio do Planalto, em Brasília, DF (8/1/2025)
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Foto: Ricardo Stuckert/PR

É óbvio que a reação do público e a exposição crítica de seu caráter mambembe irritou os vaidosos produtores da democracia cenográfica, que parecem não compreender a inexistência de crime de opinião em democracias da vida real. E, tal como a presa de uma sucuri, cada vez mais comprimida quanto mais se debate para escapar, eles vão se enredando cada vez mais na própria farsa. Afinal, para além dos limites do ambiente controlado da claque jornalística que tudo aplaude, não há de convencer ninguém um espetáculo de autocelebração da democracia que comece por punir opiniões e criminalizar críticas aos poderes da República. O assédio judicial contra Eduardo Bolsonaro é um dos atos finais da pantomima.

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