As mortes da criança, em um bairro popular, e do estudante de medicina desarmado, em área nobre, causaram comoção e devem engrossar as já alarmantes estatísticas da letalidade policial em São Paulo -no caso de Ryan, segundo oficiais, o disparo “provavelmente” partiu de um PM.
Em quase metade do mandato, o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) registra, mês a mês, escalada vertiginosa de óbitos.
Segundo dados da própria Secretaria da Segurança Pública, o número de pessoas mortas no estado por policiais militares em serviço subiu 82% entre janeiro e setembro deste ano: 474 ante 261 em 2023. Em 2022, ainda sob a gestão João Doria (PSDB, hoje sem partido), foram 180.
A violência estatal não é um fenômeno exclusivo paulista. Ainda que o país tenha registrado redução de 0,9% no ano passado, as mortes por intervenção policial quase triplicaram em uma década (de 2.212, em 2013, para 6.393, em 2023), segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Nota-se, também, que a alta letalidade independe de colorações partidárias. A Bahia, governada pelo PT, e o Rio, pelo PL, detêm o maior número absoluto de mortes do ano passado, com 1.699 e 871, respectivamente.
A média de 17,5 óbitos por dia torna a polícia brasileira uma das mais violentas do mundo. Para comparação, e guardadas abissais diferenças sociais e de motivação nas abordagens, a letalidade da polícia nos EUA -não exatamente um exemplo de procedimento- é pouco mais de 10% da observada aqui, em proporção da população.
No caso paulista, o afrouxamento de mecanismos de controle, como o subaproveitamento das câmeras corporais, e discursos condescendentes do governador e de seu secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, com potencial efeito liberalizante no comportamento da tropa, podem ter contribuído para o morticínio.
A retórica populista e a prática truculenta decerto têm aderência em camadas da população, mas são inócuas no combate efetivo à criminalidade, que carece sobretudo de uma polícia responsável e bem preparada, cujo propósito maior é proteger os cidadãos.
Leia mais (11/22/2024 – 22h00)