O delegado Humberto Teófilo, da Central Geral de Flagrantes de Goiânia, afirmou em entrevista ao Jornal da Oeste desta terça-feira, 13, que a criminalidade tem se tornado referência para muitos jovens, especialmente em regiões onde o tráfico de drogas exerce influência direta sobre a comunidade.
“Sabemos que em vários bairros, a criança acaba tendo como referência o traficante”, revelou o policial, que destacou a ostentação dos criminosos. “O traficante que anda de colarzão, de relógio, às vezes tá num carro bom.”
A entrevista ocorreu depois da repercussão de um vídeo gravado pelo próprio delegado no interior de uma cela, com o intuito de alertar crianças e adolescentes sobre as consequências do envolvimento com o crime.
Segundo ele, a ideia surgiu durante uma manhã comum de trabalho. “Deus tocou no meu coração e me disse: ‘faça um vídeo dentro da cela, informa as crianças do que acontece quando as crianças não têm disciplina, quando mente para os pais, não frequenta a aula’”.
Teófilo já realiza há anos palestras em escolas públicas e privadas, sempre com foco em prevenção. O vídeo, segundo ele, atingiu um público amplo e gerou retorno positivo. “Inúmeras mensagens de crianças pra mim, adolescentes, fazendo até uma declaração pra mim, um compromisso que não irá mentir, de que irá respeitar os pais, que irá frequentar a escola”, relatou.
Ao descrever o conteúdo das palestras, o delegado afirmou que adota uma linguagem direta, sem suavizar a gravidade dos temas. “Falo que a droga mata, falo que quem entra na vida do crime ou é cemitério, ou é cadeia”, frisou. “falo de forma rasgada, porque não adianta a gente esconder a realidade.”
Delegado alerta para o risco de omissão na educação dos filhos
Ele também critica a omissão familiar: “Pais, conversem com seus filhos dentro de sala de aula, eduquem seus filhos, não terceirizem a educação para que um criminoso, um bandido, não eduque ele”, aconselhou.
Teófilo relatou que, muitas vezes, pais procuram a delegacia para que os filhos tenham contato direto com a realidade do sistema prisional. “Sempre tem algum pai que traz e eu faço questão de ir lá mostrar as celas pra eles […] é um choque do bem que tenho certeza já recebi várias declarações dos pais dizendo que depois dessa visita […] ela mudou completamente”.
Perguntado sobre a receptividade nas escolas públicas, o delegado relatou que o impacto inicial costuma ser forte. “A minha palestra é muito dura, falo da realidade”, contou. “Falo pros professores: vocês querem que eu fale da realidade dura aqui? Porque se for pra mentir, se for fazer discurso bonito aqui, não precisa não.”
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Teófilo ressaltou que em Goiás há respaldo das autoridades. “O atual governo sempre deu uma liberdade para trabalhar”, elogiou. “O governo que amarra o policial, que quer monitorar o policial […] ele tá mais preocupado com analisar […] ao invés de vigiar o bandido que está vendendo drogas.”
O delegado também criticou a dinâmica das audiências de custódia. “A gente prende aqui com dificuldade, no outro dia uma canetada, o juiz solta na custódia”, lamentou. “Nem lê e coloca na rua, nem pra usar tornozeleira eletrônica.”
Ao final da entrevista, Teófilo reforçou que não pretende desistir do trabalho de prevenção. “Se o juiz soltar no outro dia e o cara cometer o crime, eu vou prender de novo”, prometeu. “Se o juiz soltar, eu vou andar de novo pra prender, se ele cometeu o crime. Temos que seguir, não podemos desanimar.”
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