Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado uma expansão notável na produção de vinhos, impulsionada pela técnica de dupla poda. Essa prática consiste em realizar dois cortes anuais. Isso permite a alteração do ciclo natural das videiras e colheitas durante o inverno, o que abre novas possibilidades para a plantação das uvas no país.
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Desenvolvida pela Embrapa e pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a técnica possibilita a produção em Estados antes consideradas inviáveis, como Goiás, Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais.
Esses Estados estão se destacando nesse cenário, com a produção dos chamados vinhos de inverno. A inovação não apenas ampliou a produção, mas também enriqueceu o mercado com novos e valorizados rótulos.
A produção de vinhos de inverno e a situação do Rio Grande do Sul
Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), afirmou ao jornal O Globo que a técnica está inspirando novos projetos. Além disso, tem atraído investidores de segmentos diversos, que veem potencial na produção de vinhos de alta qualidade, ainda que em volumes menores. Atualmente, a produção nacional de vinhos de inverno já alcança 651 mil garrafas por ano, o equivalente a 488 mil litros.
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O Rio Grande do Sul, por sua vez, continua a ser um dos maiores produtores do país, com 455 milhões de litros anuais de vinhos, espumantes e outros derivados de uva. No entanto, o consumo per capita de vinho no Brasil ainda é reduzido: cerca de 2 litros por pessoa por ano. Já na Itália essa média chega a 40 litros.
Iniciativas de enoturismo em São Paulo
Essa expansão é acompanhada por uma crescente valorização da atividade turística, que tem se mostrado uma área promissora para o desenvolvimento regional.
Em Cravinhos (SP), o empresário Luiz Biagi, conhecido por sua atuação na indústria de máquinas, inaugurou uma vinícola em 2023. Ele utilizou a técnica de dupla poda para cultivar variedades como Moscato Giallo, Nebbiolo e Sangiovese.
Biagi investiu R$ 100 mil por hectare, com o objetivo de produzir cerca de 10 mil garrafas de tintos e brancos. O projeto serve como homenagem às suas raízes italianas, e ele promove degustações em um restaurante na vinícola.
Além disso, junto de outros dez produtores, Biagi criou o movimento Wines of São Paulo, em 2023, com o objetivo de divulgar a qualidade dos vinhos paulistas.
O projeto Vinícola Brasília
No Distrito Federal, Ronaldo Triacca tem produzido vinhos desde 2018. Ele começou com a uva Syrah, que se adaptou bem ao clima local. Ele cultiva 15 variedades de uvas em sua propriedade, que também oferece serviços de enoturismo em sua Villa Triacca Hotel Vinícola & Spa. Neste ano, a produção deve chegar a 37 mil garrafas, e seus vinhos já foram premiados no Reino Unido e no Brasil.
Triacca faz parte do projeto Vinícola Brasília, que visa a expandir a produção na região, com 11 rótulos planejados e um investimento total de R$ 50 milhões.
Ele reconhece que o preço do vinho nacional ainda é um desafio, com impostos que podem equivaler a 50% do valor. Mas observa que, desde a pandemia, o brasileiro começou a valorizar mais o vinho nacional.
Diversificação dos vinhos na Bahia e a história da Guaspari
Na Bahia, a vinícola Uvva, pertencente à família Borré, diversificou suas atividades de produção de café e batata para incluir vinhos, depois de um estudo identificar o potencial da região. Com 52 hectares, a vinícola integra o agroturismo. “Isso proporciona uma perspectiva sustentável para o negócio”, afirma Fabiano Borré, CEO da Uvva, ao O Globo.
A vinícola Guaspari, localizada na Serra da Mantiqueira (MG), engarrafou seu primeiro rótulo há dez anos e já acumula prêmios. Fabrizia Zucherato, diretora-executiva, destaca que a dupla poda foi crucial para o sucesso da vinícola, que tem investido em experiências de enoturismo para atrair visitantes. Seus produtos já estão presentes em restaurantes renomados, como o Bar da Dona Onça, em São Paulo.
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