Lula usa pronunciamento para fazer comício na TV, dizem jornais

No pronunciamento que fez em rede nacional de rádio e televisão nesta segunda-feira, 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exibiu mais um elemento do manual de marketing adotado pelo novo ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira.

Nessa cartilha da comunicação presidencial, produzida sob a lógica de comitê eleitoral, revogam-se todas as disposições legais, morais ou políticas em desfavor de uma comunicação pública, republicana, impessoal e apartidária. “O mundo mágico de Lula da Silva e de Sidônio Palmeira é outro”, afirma o jornal O Estado de S.Paulo em editorial desta quarta-feira, 26.

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Em pouco mais de dois minutos, o presidente leu o roteiro do seu marqueteiro não como chefe de Estado, mas como candidato; fez um comunicado não como uma prestação de contas ou informação de interesse público destinada à população, mas como uma peça de propaganda eleitoral; apresentou dois programas de seu mandato não como novidade ou celebração de um marco digno de tal, mas como uma das patranhas tipicamente lulopetistas que servem de louvação aos poderes sobrenaturais de Lula.

“Uma dupla que não é sertaneja, mas que está mexendo com o Brasil: o Pé-de-Meia e o novo Farmácia Popular”, anunciou o presidente. Sobre o primeiro, informou-se o pagamento da poupança para os jovens do ensino médio – represado em parte pela marotagem do governo de destinar recursos do programa fora da previsão orçamentária – e descreveu-se uma “ação extraordinária” que “está ajudando 4 milhões de jovens a permanecerem na escola”.

A segunda notícia já fora anunciada pela agora ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade, isto é, a gratuidade de 100% dos medicamentos do programa, além da oferta de fraldas geriátricas. “Tudo de graça”, resumiu Lula.

“Pelo que diz, como diz e quando diz, o pronunciamento é tudo menos um comunicado tradicional ao país, como os brasileiros se acostumaram a ver sempre que um presidente ou algum de seus ministros recorre à rede nacional de rádio e TV”, afirma o Estadão.

“É evidente que, em nome da boa comunicação pública, instituições e autoridades devem modernizar o formato de seus informes”, acrescenta. “Mas o que está em curso é de outra natureza: trata-se de campanha eleitoral antecipada. Não havia nenhuma urgência que demandasse um pronunciamento oficial do presidente da República. A única urgência óbvia é a queda acentuada da popularidade de Lula.”

Governo Lula está desnorteado com impopularidade

O jornal Folha de S.Paulo também repercutiu o pronunciamento-comício de Lula. “Parece evidente que um governo desnorteado e agora atônito pelo tombo nas pesquisas já não mede palavras a fim de reverter sua rejeição”, diz o jornal. “Assim, difunde informações erradas sobre combustíveis e dissemina esperanças falsas quanto a seu poder de controlar preços de alimentos.”

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Pelo último Datafolha, a avaliação positiva do governo caiu 11 pontos em apenas dois meses, de 35% para 24%. A negativa subiu de 34% para 41% — pior desempenho de Lula em seus três mandatos.

Segundo o veículo, Lula desdenha explicitamente do equilíbrio macroeconômico e espalha a crença de que a distribuição de dinheiro e crédito fartos podem sustentar o crescimento da economia.

“É razoável que um governante faça pronunciamentos em momentos de crise ou emergências”, pontua a Folha. “É aceitável que, vez e outra, apresente diretrizes. Mas cogitar, como faz o governo petista, que tais declarações informais sejam quinzenais é mera propaganda, um abuso que instituiria o palanque nacional de rádio e TV.”

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante pronunciamento oficial | Foto: TV Brasil | Divulgação
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante pronunciamento oficial | Foto: Divulgação/TV Brasil

Conforme o jornal O Globo, o governo Lula erra ao pensar que tudo se resume a falha de comunicação e que basta Lula falar mais no rádio e na TV.

“Por mais que haja problemas na comunicação do Planalto, é difícil divulgar um governo que não tem muito o que mostrar”, afirma. “Ao chegar à metade do mandato, o governo Lula ainda busca uma marca. Até agora, o que tem a apresentar são programas reciclados de administrações anteriores, quase sempre defasados para os tempos atuais.”

O veículo pontua que os erros do governo têm sido percebidos pela população, já que a popularidade de Lula caiu até entre seus eleitores mais fiéis.

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“Embora o pronunciamento em cadeia nacional não viole as leis eleitorais neste momento do mandato, está errado Lula reivindicar tempo de TV para reprisar seus programas e exaltar sua administração”, pontua O Globo. “Essa modalidade de comunicação não existe para veicular peças de propaganda de olho na reeleição, mas para o chefe de Estado transmitir mensagens de relevo para a nação.”

“Lula deveria ir à TV quando realmente tivesse algo a falar”, acrescenta. “A julgar pelas pesquisas, os brasileiros não estão interessados em anúncios de fundo eleitoreiro, mas em resultados concretos. Dois anos e dois meses já são tempo suficiente para ter algo a mostrar.”

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