É uma cilada, Cid

O tenente-coronel Mauro Cid foi 11 vezes à Polícia Federal prestar depoimentos sobre assuntos diversos — nove deles serviram depois para formalizar uma ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Era um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, que por sua vez não conduziu de fato o processo, porque o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e seus policiais federais já tinham um roteiro pronto. Foi o que ele disse, num desabafo que voltará à tona, depois de ter de assinar papéis que não diziam a verdade. Tudo isso foi publicado pela revista Veja.

Nesta semana, um dia depois de Bolsonaro e outras sete pessoas — a maioria com patente militar — se tornarem réus por uma trama de golpe de Estado, a Procuradoria-Geral da República disse, assim como quem joga um envelope na gaveta: sabe aquela acusação de falsificar carteirinha de vacina da covid? Então, não tem nada não. Ocorre que foi essa expedição da Polícia Federal, que chega às casas armada até os dentes, como se fosse prender os verdadeiros criminosos que não prende, que deu origem ao espetáculo farsesco. Foram buscar uma carteirinha de covid na casa de Cid, mas levaram celulares e computadores. É uma devassa no passado para qualquer um. E qualquer coisa serve.

Em seguida, tentaram implicar Cid, Bolsonaro e sua mulher, Michelle, num esquema de venda de joias presenteadas por chefes de Estado. Tampouco deu em nada. Mas, enquanto isso, Cid foi chamado — semana sim, semana também — a depor: “coisas” apareciam na memória do seu celular, indicando que ele e aliados do ex-presidente queriam dar um golpe — aliás, desde 20121, um golpe de Bolsonaro no governo Bolsonaro.

“Cid caiu numa cilada”

Cid caiu numa cilada. Viu-se obrigado a assinar tudo porque foi ameaçado, conforme vídeo divulgado pelo ministro Alexandre de Moraes. Se não assinasse, seus familiares seriam encurralados.

Eis que o ministro Luiz Fux, o único juiz da carreira na Suprema Corte — Flávio Dino abandonou a magistratura para militar pelo Partido Comunista —, decidiu questionar a soberania de Moraes: “Nove delações representam nenhuma delação”. A chance de anulação, seja pelo “voluntarismo” ou pela não comprovação probatória do que ele disse, é enorme.

“Mauro Cid, caiu numa cilada. Resta saber se vai se conformar com isso em juízo”

Silvio Navarro

O mínimo que o brasileiro e as páginas de História merecem é que um julgamento — agora no mérito — dessa magnitude seja feito às claras, pelos 11 integrantes da Corte. Já Mauro Cid, caiu numa cilada. Resta saber se vai se conformar com isso em juízo.

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