Apesar de ter promovido avanços na transparência e no controle das finanças da Igreja Católica, o papa Francisco deixou para seu sucessor um cenário desafiador. De acordo com informações do jornal Folha de S.Paulo, o Vaticano continua operando com déficit orçamentário e enfrenta um rombo bilionário no fundo de pensão.
Francisco, morto no dia 21 de abril, assumiu o comando da Igreja Católica em 2013, quando as finanças do Vaticano enfrentavam décadas de escândalos e de má administração. Logo no começo, adotou uma campanha de reformas para trazer mais transparência à gestão financeira da Santa Sé.
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Um dos principais alvos foi o Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Fundado em 1942, o IOR esteve envolvido em diversas controvérsias ao longo do tempo.

Para tentar resolver o problema, o papa Francisco nomeou executivos com experiência no setor financeiro e removeu o controle clerical da gestão econômica. Jean-Baptiste de Franssu, ex-CEO da Invesco Europe, assumiu a presidência do IOR em 2014. O banco, então, encerrou milhares de contas inativas e começou a publicar relatórios anuais.
O IOR registrou lucro líquido superior a € 30 milhões em 2023 e administra cerca de € 5,4 bilhões em ativos de clientes. O banco também recuperou credibilidade internacional: passou de apenas um banco correspondente para mais de 45.
Apesar das melhorias, o Vaticano permanece com déficit
Francisco também fortaleceu a atuação da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa), que funciona como um fundo soberano. Em 2023, a Apsa gerenciava ativos de quase € 3 bilhões, com lucro de € 46 milhões. A instituição administra cerca de 5 mil imóveis da Santa Sé, além de doações.
Apesar dos avanços, o Vaticano continua com um déficit orçamentário expressivo. Estima-se que o fundo de pensão da Santa Sé tenha um passivo não financiado de quase € 1,5 bilhão, segundo documentos obtidos pelo site The Pillar, especializado em notícias sobre a Igreja Católica.
Em 2015, o ex-presidente da Deloitte na Itália Libero Milone foi nomeado auditor-chefe, mas acabou afastado dois anos depois. Segundo ele, sua demissão ocorreu depois de pedir acesso a informações sobre “centenas de milhões de dólares” mantidos fora dos registros oficiais.
As finanças do Vaticano também foram abaladas por um investimento imobiliário em Londres, que começou em 2014. O negócio resultou em perdas de € 200 milhões e levou à condenação do cardeal Giovanni Angelo Becciu por peculato e fraude. Francisco reagiu e retirou da Secretaria de Estado a gestão desses ativos, repassando-os à Apsa.
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A maior parte da receita do Vaticano vem de imóveis e instituições como escolas e hospitais católicos, responsáveis por mais de 65% da arrecadação. Doações designadas responderam por 24%, o Óbolo de São Pedro por 6%, e o restante veio do banco do Vaticano e do turismo.
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