O novo chefe de Estado do Vaticano

Anunciado na tarde desta quinta-feira, o papa Leão XIV já sabe que vai comandar uma igreja dividida, como quase tudo no mundo. Não creio que isso o intimide. Líderes só devem esperar desafios. Tudo o mais costuma ser mais leve. A Igreja Católica olha para o futuro, mas se inspira no seu enorme passado. Recorrendo à história e a algumas declarações do cardeal Robert Francis Prevost, ele já ofereceu algumas mostras de guardar um certo pragmatismo no que a política interfere na vida da pessoas. Bergoglio, seu antecessor, era um religioso inspirado na esquerda latino-americana dos anos 1970, movida por um arremedo de pensamento ideológico sem nenhuma praticidade que se revelou apenas numa tragédia social e política no continente. A Nicarágua, embora parada no tempo, é um exemplo vivo e presente desse modelo de congregação do sonho utópico que só produziu ditadores sanguinários, com o requinte de crueldade de perseguição a religiosos, como se viu e ainda acontece no regime de Daniel Ortega.

Em que pesem modelos de esquerda mais modernizados do século 21, o resultado é sempre socioeconomicamente desastroso. Vide a Argentina do kirchnerismo, mas que pode ser estendido à América Latina, que só começa a se levantar agora, sob o governo Javier Milei, com economia de mercado, redução do tamanho do Estado e garantia das liberdades. Ou o Brasil e seu lulopetismo de retrocessos institucionais, democráticos, sociais e econômicos, apesar de termos vindo de uma recuperação dos primeiros mandatos petistas que legaram ao país a maior recessão de sua história.

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A revolução proletária que tanto apaixonava o papa Francisco — atenhamo-nos à sagrada história sem os revisionismos dos que rejeitam os fatos por conveniência — só usou a Igreja e a fé das pessoas para objetivos particulares meramente de ascensão ao poder. Uma vez lá, o despotismo reinou muito longe do justo Reino dos Céus. Apesar de seu longo período no Peru e da proximidade com o papa argentino, o cardeal norte-americano é de uma outra época, provavelmente muito mais moderno, mais pragmático e se distancia de Francisco justamente por isso, porque viu o sonho da esquerda latino-americana em formato real de pesadelo dos mais pobres. Fato é que a Teologia da Libertação não se sustentou e terminou como instrumento de ascensão de déspotas sem formação ou competência para conduzir seus países. Em seu primeiro sermão, já como sucessor de Pedro, o papa Leão XIV falou em ampliar a atividade missionária da igreja e em paz. É cristianismo em seu estado mais puro, uma bandeira branca em nome da moderação e da convivência dos povos, de divulgação do evangelho.

A importância do Vaticano

E e aí que o papel de chefe de Estados do papa precisará ser revelada: só se pode ser missionário religioso sem se tornar em perseguido em países livres, com liberdade de expressão plena. Como a ciência política nos ensina, somente em países verdadeiramente democráticos isso é possível. E estes estão do centro à direita, normalmente conservadores. A esquerda, nova ou velha, continua opressora e querendo regular tudo com mão de ferro. Que tipo de garantia se tem na China, na Rússia, em Cuba, na Venezuela, na Nicarágua ou em países assemelhados? Ao defender a paz, o novo papa testará esses seus sinais de devoto da moderação política e do pragmatismo. Paz é diplomacia garantida pelo poder de dissuasão. Quem hoje tem poder para ajudar o Vaticano nos termos de sociedades livres e prósperas como evidentemente prega o novo papa? Em poucas palavras: a Casa Branca.

Porque além do instável Oriente Médio, a guerra que aflige o mundo está na Ucrânia, em plena Europa. E essa guerra é inspirada no que tem de mais antiquado e explosivo do século 20: guerra de expansão territorial e reavivamento do sentimento soviético.

Foi contra isso que o mais influente papa dos últimos tempos lutou como uma profissão de fé. Sob uma lógica pragmática de um polonês que não aceitaria mais ser invadido, João Paulo II não pensou duas vezes em aceitar uma aliança com Ronald Reagan para combater o inimigo em comum, o comunismo dos soviéticos. O mundo mudou. Estamos no século 21. Mas tem certas coisas que ainda precisam de olhares, ações e líderes muito parecidos com os que salvaram a humanidade no século passado.

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