Depois do aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros da economia nesta quarta-feira, 11, especialistas de alguns dos maiores bancos privados do Brasil enfatizaram que o Comitê de Política Monetária (Copom) demonstrou estar cumprindo seu papel.
No entanto, ainda há dúvida se esse ajuste expressivo na Selic e os próximos já indicados vão ser suficientes para controlar a inflação.
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Itaú destaca que comunicado não falou em decisão unânime sobre juros
O economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, que já foi diretor do Banco Central (BC), destacou que o comunicado do Copom não mencionou que a decisão foi tomada de forma unânime. Isso o levou a considerar a hipótese de divergência entre os membros do comitê, embora todos tenham votado pelo aumento de um ponto porcentual.
“Curiosamente, embora todos os membros do conselho tenham votado pelo aumento de 100 p.b. [ponto porcentual], o texto não mencionou que a decisão foi unânime”, disse Mesquita, em relatório. “Isso, em nossa opinião, levanta a possibilidade de que não houve consenso sobre a sinalização.”
Para Mesquita, é plausível, “embora menos provável”, que alguns integrantes do Copom tenham preferido “um ritmo diferente de aumento”, possivelmente de 0,75 ponto porcentual, “mas acabaram apoiando a maioria para minimizar ruídos”.
Segundo ele, essa questão pode ser esclarecida na ata da reunião do Copom, que vai ser divulgada na terça-feira, 17, e no Relatório Trimestral de Inflação, na quinta-feira, 19.
“Por enquanto, esperamos que a taxa básica seja elevada em 100 pontos-base [um ponto porcentual] na próxima reunião de política monetária, e muito provavelmente na seguinte também”, completou Mesquita.
Bradesco prevê revisão de panorama
O Bradesco considera que a sinalização do Copom, que aponta uma Selic de, no mínimo, 14,25% no início de 2025, está acima das estimativas atuais do banco, o que vai motivar uma revisão do panorama nos próximos dias.
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Além disso, o banco destacou que o aumento de um ponto percentual na Selic estava alinhado com o que já havia sido precificado na curva de juros, embora tenha excedido os 0,50 ponto porcentual projetados pela instituição.
Santander espera que mercado receba bem o ajuste nos juros
O aumento da Selic em um ponto percentual, acompanhado do comunicado que se seguiu à decisão do Copom, reflete uma política monetária “proativa”, que tenta recuperar o controle da inflação e dos preços. Ao menos essa é a avaliação de Marco Caruso, economista responsável pela política monetária do Santander Brasil. Ele acredita que, por essa razão, o mercado financeiro deve reagir positivamente.
“Deveremos ver os vértices mais longos [da curva de juros] abrindo ou, quem sabe, até cedendo contra uma curva curta que vai responder a esse choque”, afirmou. “No final do dia, essa soma de fatores deve levar a uma leitura do mercado de que o movimento [do Copom] é correto.”
“Vai ser muito importante acompanhar qual é a resposta da política fiscal a um aparente tratamento de choque nos juros, tendo em vista que até agora a postura fiscal e do governo tem sido de não aceitar qualquer tipo de possibilidade de desaceleração da atividade econômica”, completou. “E um tratamento de choque assim muitas vezes pode significar uma desaceleração mais forte do PIB.”
Inter enxerga risco de dominância fiscal
Para a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, o Brasil enfrenta um risco de dominância fiscal, onde mesmo uma postura mais rigorosa do BC pode já não ser suficiente para estabilizar as expectativas.
“Acho que podemos ver um impacto grande [da alta expressiva de juros pelo BC] na economia sem o benefício de controlar inflação caso o cenário fiscal continue se deteriorando, impactado pelo câmbio e por impulsos fiscais”, afirmou. “Mas, ainda assim, o BC está fazendo o seu papel na política monetária.”
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Rafaela menciona ainda que há risco de que o governo se torne “ainda mais expansionista do lado fiscal, para contrabalançar o ajuste monetário forte”, o que elevaria os juros e a inflação.
BTG espera Selic em 14,25% em maio do ano que vem
O comunicado do Copom, que não apenas elevou a Selic em um ponto porcentual, mas também antecipou mais dois aumentos do mesmo tamanho, afastou, ao menos por ora, as atenções sobre a mudança de comando na instituição. Essa é a análise de Alvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual.
Para Frasson, o posicionamento firme do comitê de diretores do Banco Central (BC) é “positivo e importante” para reforçar a credibilidade da instituição e afastar incertezas quanto à condução da política monetária no início do mandato de Gabriel Galípolo.
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“Até 6 de maio, sabemos que a Selic será 14,25%”, destacou Frasson, referindo-se à indicação de que os próximos encontros do Copom devem continuar subindo os juros em um ponto porcentual.
“Foi a melhor decisão porque havia desconfiança se isso [um aumento desta magnitude] seria feito em momento de transição no BC”, comentou.
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