Depois de a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria, em 8 de dezembro último, veio à tona um vasto esquema de produção e tráfico de drogas, centrado principalmente no estimulante ilegal captagon.
Esse comércio ilícito, segundo o Deutsche Welle, com informações da AFP, desempenhou um papel crucial no financiamento do governo sírio, especialmente depois do colapso econômico causado pela guerra civil e pelas sanções internacionais.
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O captagon ficou conhecido na Síria pelos apelidos de Droga dos Jihadistas e Coragem Química. Além de comercializado, também foi usado amplamente por combatentes que lutaram na guerra civil do país.
A droga foi originalmente desenvolvida como um medicamento de prescrição na década de 1960 na Alemanha, indicada para tratar condições como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e narcolepsia.
A substância provoca efeitos similares aos das anfetaminas, demonstrava potencial terapêutico, mas também gerava um alto risco de dependência. Aumenta a dopamina no cérebro. Seu uso foi proibido na década de 1980.
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Com a proibição, a produção legal do medicamento foi interrompida, mas o captagon continuou a ser fabricado ilegalmente, especialmente no Oriente Médio.
As versões ilícitas possuem fórmulas diferentes da original, frequentemente adaptadas para facilitar a produção em larga escala e maximizar os efeitos estimulantes.
Bilhões para a Síria
Estima-se que o tráfico de captagon tenha gerado bilhões de dólares anuais para a Síria. Entre 2020 e 2022, o Observatory of Political and Economic Networks avalia que o negócio ilegal gerou US$ 7,3 bilhões de dólares na Síria e no Líbano (cerca de R$ 44,2 bilhões).
O tráfico de captagon tornou-se uma estratégia fundamental para o regime de Assad, especialmente como resposta às sanções econômicas impostas desde 2011, quando teve início a guerra civil no país. Essas restrições limitaram severamente as fontes tradicionais de renda do governo sírio.
No estudo do Observatory, ficou constadada, segundo os dados levantados, a participação do grupo terrorista Hezbollah, sediado no Líbano mas com representantes na Síria para dar suporte ao governo, nesta rede de comércio ilegal.
“O Hezbollah libanês e as Forças de Defesa Nacional [que apoiavam Assad] são responsáveis por grande parte do fornecimento de narcóticos da Síria, com pelo menos nove membros da família extensa de Assad envolvidos”, relata o documento.
“Além disso, atores apoiados pelo Irã no nordeste, como as Forças de Mobilização Popular do Iraque, estão cada vez mais implicados. Embora elementos das forças de oposição estejam envolvidos na produção e contrabando de narcóticos, seu papel continua sendo marginal.”
Irmão de Assad
Jornalistas da AFP foram autorizados a entrar no subsolo de um armazém, situado em uma pedreira em Damasco. Encontraram, escondidos em componentes elétricos para exportação, milhares de comprimidos de captagon.
Entre os envolvidos no esquema, inclusive o deste depósito, estavam familiares de Assad, como Maher al-Assad, irmão do ditador, e seu parceiro Amer Khiti.
Maher comandava unidades militares responsáveis pela produção e distribuição da droga.
“Depois que entramos e fizemos uma varredura, descobrimos que esta é uma fábrica para Maher al-Assad e seu parceiro Amer Khiti”, disse o combatente Abu Malek al-Shami.
Sanções internacionais, lideradas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido, foram impostas nos últimos anos. O político sírio Khiti, parceiro de Maher, foi especialmente submetido a sanções pelo Reino Unido, acusado de controlar vários negócios ligados a este tráfico.
Comprimidos de captagon foram encontrados aos montes em bases militares e centros de distribuição. Também havia grande quantidade da droga em linhas de frente de guerras, canteiros de obras e festas.
A produção e o tráfico de captagon na Síria desempenharam um papel duplo: financiar o regime de Bashar al-Assad durante períodos de sanções econômicas e guerras, além de servir como ferramenta geopolítica para pressionar países do Golfo, como a Arábia Saudita.
Com isso, o regime conseguiu restaurar laços diplomáticos, culminando na reintegração da Síria à Liga Árabe em 2023, depois de anos de isolamento.
Apesar de repetidas acusações fundamentadas por investigações internacionais, o governo sírio sempre negou envolvimento, alegando que as acusações eram fabricadas por opositores para manchar sua imagem.
Características da droga
O captagon é uma droga sintética barata e relativamente fácil de produzir, com efeitos estimulantes similares aos das anfetaminas. Seu consumo eleva a dopamina no cérebro, induzindo sentimentos de euforia, energia e foco, o que lhe rendeu o apelido de “coragem química”.
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Ela tem sido usada amplamente em contextos de guerra, especialmente por combatentes em zonas de conflito no Oriente Médio, para aumentar a resistência física e mental.
Há relatos de que cápsulas da substância foram encontradas em corpos de terroristas do Hamas, em confrontos com Israel.
Ao tomar o poder, os combatentes da Organização para a Libertação do Levante (HTS) também confirmaram que encontraram uma grande quantidade da droga e prometeram destruí-la.
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