No mesmo dia em que recebeu alta do Hospital Sírio-Libanês, depois de uma cirurgia de emergência e cinco dias de internação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou que está mesmo em forma.
Em editorial publicado nesta terça-feira, 17, o jornal O Estado de S.Paulo destacou que o petista, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, não deixou dúvidas sobre seu desejo de interferir na gestão de Gabriel Galípolo, seu escolhido para presidir o Banco Central (BC) a partir do ano que vem.
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Lula avaliou que tudo tem dado certo em seu governo, e que a única coisa errada é a taxa de juros, que acaba de ser elevada para 12,25% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – com o voto inclusive de Galípolo.
“Não há nenhuma explicação”, afirmou Lula. “A inflação está quatro e pouco. É uma inflação totalmente controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia, não é do governo federal. Mas nós vamos cuidar disso também.”
Ao contrário do que disse o presidente, contudo, há explicação para a alta dos juros. O Copom informou que decidiu elevar em um ponto porcentual a Selic, entre outras razões, como resposta à flacidez do pacote de ajuste fiscal anunciado pelo governo.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa”, informou o Copom. Segundo o comitê, esse fator, dentre outros, “exige uma política monetária ainda mais contracionista”.
Os “quatro e pouco” de inflação a que Lula se referiu são, na verdade, 4,87% no acumulado em 12 meses até novembro, como verificou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nada menos do que 1,87 ponto porcentual acima do centro da meta inflacionária fixada pelo próprio governo para este ano.
A inflação, que nos últimos meses se espalhou por todos os preços, já estourou o teto máximo permitido para 2024, caminha perigosamente para ficar acima do limite do primeiro período de 2025 e está longe de estar “totalmente controlada”, como afirma Lula.
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“Mas o demiurgo é incansável”, avalia o Estadão. “Ao insistir em negar a realidade da alta da inflação e o papel dos gastos do governo nessa escalada, Lula pretende caracterizar o Banco Central como um instrumento do mercado para favorecer o rentismo em detrimento do crescimento do país. É tudo muito conveniente, especialmente porque o BC ainda é presidido por Roberto Campos Neto, indicado pelo antípoda de Lula, Jair Bolsonaro.”
O jornal pontua que Galípolo, sucessor de Campos Neto escolhido por Lula, também votou a favor da alta dos juros e tem sido especialmente conservador em suas declarações sobre a inflação e o trabalho do BC em contê-la. Pode ser que tudo mude a partir de sua posse e que Galípolo, para agradar ao padrinho, se disponha a “cuidar disso”, isto é, baixar os juros na marra.
“Só daqui a algum tempo saberemos qual versão de Galípolo presidirá o BC, se o zelador prudente do poder de compra da moeda que ele parece ser até aqui ou o irresponsável sabujo do presidente perdulário, como desejam os petistas”, diz o texto.
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Desafio de indicado de Lula vai ser maior do que de Campos Neto
Em recente jantar em Brasília, Campos Neto disse que a tarefa de Galípolo no BC vai ser bem mais difícil do que a dele. De fato, nos quatro primeiros anos de seu mandato de seis, Campos Neto teve pelo menos algum apoio da base aliada, “ainda que as críticas de Bolsonaro à política monetária em momentos de juros altos não diferissem em quase nada das feitas por Lula”, afirma o jornal.
Na avaliação do Estadão, de nada adiantou o Copom ter explicitado a disposição de efetuar duas novas altas de 1 ponto porcentual até março, se Lula já está ignorando o que parecia ser uma barreira de contenção contra os arroubos do governo nos três primeiros meses da nova diretoria do BC.
“Ninguém tem mais responsabilidade fiscal do que eu”, bradou o presidente, que deve terminar seu mandato com quatro anos de déficit fiscal.
O post Lula faz pouco da autonomia do Banco Central, diz Estadão apareceu primeiro em Revista Oeste.