O filme Trem-Bala (Bullet Train, de 2022) apresenta uma maneira interessante de desconstruir a violência. É adequado para quem está cansado de se deparar com notícias e obras que a expõem com uma seriedade histérica e macabra. Trata-se de adaptação do livro homônimo do japonês Kotaro Isaka. Está disponível nas principais plataformas de streaming.
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Por trás do aparente estilo non sense, a obra lida com a brutalidade de forma leve. Bem-humorada até.
A trilha básica é a versão de Staying Alive, em japonês. É complementada, entre outras, por composições originais japonesas, músicas do compositor e cantor britânico, Dominic Lewis e pela intensa La Despedida, de Alejandro Sainz.
A suave Five Hundred Miles, desta vez interpretada pelo grupo japonês Song for Memories, também se destaca.
Durante o percurso frenético do trem, na linha que liga Tóquio a Kyoto, a morte de personagens não choca, pela maneira irônica com que é colocada. É como se o autor do crime, assim que o comete, perguntasse a si mesmo: “Pra quê?”.
O protagonista Brad Pitt, aliás, em mais de uma ocasião, se surpreende ao se perceber em uma vida tão insana que, no fundo, não leva a nada. Brigas sem sentido, mortes absurdas. “Ah, não”, diz ele, depois de matar por acidente um oponente, no meio do confortável vagão, uma mescla de metrô com trem de luxo.
Com seu humor sutil e elegante, Pitt rouba (não mata) a cena. Ele interpreta Ladybug, um assassino azarado, chefiado pela sedutora e astuta Maria (Sandra Bullock).
Ladybug tenta realizar uma missão aparentemente simples: recuperar uma maleta em um trem-bala japonês, procurada por outros personagens. Mas ele não é tão eficiente como deveria.
O trabalho se complica quando ele descobre que o trem está repleto de outros assassinos de aluguel com agendas conflitantes, mas convergentes. Lutam, por exemplo, por uma mesma mala.
Thomas e seus Amigos
As cenas prendem a atenção. Em meio a elas, é apresentada a essência de Tóquio, com sua noite iluminada por arranha-céus e as pessoas, solitárias diante da modernidade, percorrendo apressadas as praças e estações.
Uma das primeiras personagens a surgir no trem é a de Joey King, que interpreta Prince, uma jovem aparentemente inofensiva, mas com intenções maquiavélicas.
Ela imobiliza, com um aparelho de choque elétrico, o japonês Yuichi Kimura (Andrew Koji), que embarca para encontrar o responsável por atirar seu filho, em recuperação no hospital, da janela.
Seu pai, The Elder (Hiroyuki Sanada) também entra no percurso para acertar contas com o inimigo que ameaça sua família.
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Todos eles se encontram com Aaron Taylor-Johnson, que dá vida a Tangerine, um dos gêmeos assassinos, ao lado de Brian Tyree Henry, que interpreta Lemon, seu parceiro de métodos peculiares e filosofia baseada em personagens da série Thomas e Seus Amigos.
O vilão mais assustador, aquele que todos temem encontrar no fim da linha, é Morte Santa, interpretado pelo rapper porto-riquenho Bad Bunny. Ele é um mafioso poderoso, que havia desbancado o chefe do The Elder.
O longa se destaca por sua estética estilizada. Tem um quê de Pulp Fiction. Envolve, com diálogos rápidos e cenas de ação bem coreografadas, típicas do estilo de Leitch, diretor de John Wick e Deadpool 2. E trata da violência com bom-humor, que é a melhor maneira de ridicularizar aqueles que veem nela uma solução.
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