Para facilitar a chegada deles à entrada correta, convidamos todos a entrar no carro ? eles acharam divertido fazer a pequena viagem amontoados no banco traseiro. Nesse pequeno trajeto, um deles, já meio “alto”, repetia: “Não quero nem ver a cara do treinador amanhã”, ao que os outros secundavam: “Nem eu!”. O caso ilustra um dado interessante da linguagem: o sentido literal nem sempre é o “primeiro” sentido de uma expressão. Muito daquilo que falamos é mera repetição do que ouvimos ? e, por vezes, absorvemos apenas o seu sentido geral ou o seu uso pragmático. “Não quero nem ver a cara de fulano” significa preocupação com a reação desse fulano, independentemente de estarmos aptos a “enxergar” no sentido literal.
Leia mais (12/28/2024 – 10h30)
Somos menos literais do que pensamos
Gosto de lembrar um caso que me aconteceu há muitos anos quando passava de carro por volta da meia-noite ao lado do estádio do Pacaembu. A pessoa que me acompanhava viu uma bengala de cego rolando pelo meio da rua e me alertou. Paramos o carro e percebemos que um grupo de cegos, todos risonhos e muito alegres, vinha descendo pela calçada. A bengala era de um deles. Logo descobrimos que eram integrantes de um time de futebol de salão que estavam hospedados no próprio estádio. Tinham saído para um barzinho na noite de sexta-feira e acabaram descendo pelo lado errado.
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