As crises econômicas venezuelana, argentina e brasileira

Por Antonio Carlos Porto Gonçalves

A economia brasileira poderá enfrentar, nos próximos dois anos, muitas dificuldades, pois há uma séria crise de confiança devido ao desequilíbrio do orçamento público e o consequente aumento do custo (juros) do endividamento. Essa crise inibe o crédito, reduz o investimento e “exporta” o estoque de capital aqui instalado. No entanto, tais dificuldades podem ser evitadas se ficar claro que a prioridade da política macroeconômica será de obter o equilíbrio orçamentário. Este é um cenário possível, e tomara que aconteça. Mas há alternativas.

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A Argentina enfrentou um problema similar de desequilíbrio orçamentário nos últimos 30 ou 40 anos e adotou o “negacionismo”. O que isso significa nesse contexto? Consiste basicamente em uma crença e em duas políticas públicas. A crença é a afirmação de que “gasto é vida”, mesmo que não possa ser financiado. As duas políticas públicas consistem em:

  1. monetizar a dívida pública, ou seja, como esta não pode ser paga nem refinanciada, emite-se a moeda necessária para pagá-la, e a inflação torna-se galopante; e
  2. controlar ou administrar os preços dos produtos sensíveis politicamente (comida, gás, energia, transporte, taxa de juros, de câmbio etc.).

As distorções decorrentes tornam a economia do país muito ineficiente, pois ocorrem quedas de Produto Interno Bruto (PIB) real e a miséria avança. O caso recente mais grave, na América Latina, ainda não corrigido, é o da Venezuela. O país perdeu 75% de seu PIB nos últimos 30 anos. Há mais refugiados venezuelanos no mundo do que ucranianos.

“Negacionismo” econômico no Brasil

Fernando Haddad em coletiva de imprensa | Foto: Reprodução/Youtube
Fernando Haddad, ministro da Fazenda do atual governo Lula, em coletiva de imprensa | Foto: Reprodução/YouTube

No caso brasileiro, há uma boa dose de “negacionismo”. Em algumas áreas, a crença de que “gasto é vida” tornou-se dominante.

Mas o arcabouço institucional do país, pelo qual o Banco Central (BC) é independente, um órgão de Estado com a obrigação legal de cumprir a meta de inflação, é um obstáculo considerável para a monetização da dívida pública.

A burocracia de controle de preços, de câmbio e de juros está desativada, depois de muitos anos de inflação baixa.

Estas são as diferenças pró Brasil em relação à Venezuela e à Argentina. Logo, a manutenção da independência do BC e a ausência de controles de preços são indicadores importantes a serem acompanhados. Se o governo brasileiro enveredar pelo caminho da monetização e dos controles, o país terá um destino similar ao de seus vizinhos.


Antonio Carlos Porto Gonçalves é conselheiro do Instituto Liberal, graduado em engenharia industrial e metalúrgica pelo Instituto Militar de Engenharia e doutor em economia pela Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

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