Jean-Marie Le Pen, personagem histórica da direita francesa, morreu nesta terça-feira, 7, aos 96 anos em um hospital de Garches, no departamento de Haute-de-Seine, onde estava internado há semanas.
“Jean-Marie Le Pen, rodeado pela sua família, foi chamado de volta a Deus esta terça-feira às 12h00”, informou a família em um comunicado enviado à agência de notícias francesa AFP.
Líder da direita francesa por 40 anos
Fundador do partido “Frente Nacional“, durante quase 40 anos, Jean-Marie Le Pen foi o líder carismático da direita francesa. Ele chegou no segundo turno nas eleições de 2002 contra Jaques Chirac.
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Le Pen foi o primeiro a colocar a questão da imigração e da saída da França da União Europeia no centro do debate político.
Para o jornal francês Le Figaro , Le Pen foi “a figura política mais controversa” da França, um “demônio da República”.
Nos últimos anos de sua vida testemunhou o “parricídio político” que a sua filha Marine Le Pen realizou contra ele, transformando o “Frente Nacional” em um partido mais moderado, e mudando até de nome, passando a se chamar “Reagrupamento Nacional“.
Mas antes da vida política, Le Pen foi também pescador, mineiro, agrimensor, voluntário no 1º regimento de paraquedistas, com o qual lutou na Indochina, na crise do Suez e na guerra da Argélia, e até dono de uma casa discográfica.
Origem humilde
Jean-Marie Le Pen era filho de uma costureira e de um pescador. Nasceu em 1928 no vilarejo de La Trinité-sur-Mer, na Bretanha, no norte da França. Para o jornal francês “Le Figaro”, “Le Pen não foi um predestinado”.
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Aos 14 anos perdeu o pai, que morreu após uma mina naval alemã enroscar na rede de seu barco de pesca, durante a Segunda Guerra Mundial.
Em 1944, o jovem Jean-Marie pediu para se juntar às forças da resistência antinazista lideradas pelo general Charles De Gaulle. Entretanto seu pedido foi rejeitado.
“Não podemos aceitar soldados com menos de 18 anos. Você é um órfão, um “pupilo da nação”. Cuide da sua mãe”, foi a resposta que recebeu.
Provavelmente, foi também por essa recusa que começou sua simpatia pelo general “colaboracionista” Philippe Pétain.
“A história convalidou a capacidade militar do general De Gaulle, mas isso não deslegitima a ação política do marechal Pétain, nem a posição moral dos franceses que o seguiram. Se De Gaulle conseguiu olhar mais longe, Pétain foi um homem de honra ao assinar o armistício”, escreveu Le Pen em sua autobiografia.
Após a Segunda Guerra Mundial, formou-se em Direito e Ciências Políticas e depois alistou-se como voluntário entre os paraquedistas franceses que lutavam na Indochina.
Em 1956, aos 27 anos, foi eleito pelo partido “União e Fraternidade Francesas”, movimento fundado pelo político de direita populista Pierre Poujade, e tornou-se o mais jovem deputado da Quarta República.
Logo em seguida, se alistou voluntário novamente para lutar na guerra da Argélia, onde confessou ter torturado argelinos “porque tinha que ser feito”. Em seguida, negou essa declaração e processou os jornalistas que publicaram a entrevista.
Em 1957 deixou o partido de Poujade para criar o movimento “Frente Nacional dos Combatentes“. Nesse período, após uma briga com opositores políticos, perdeu um olho. A partir de então usou durante vários anos uma pala preta que caracterizou sua personagem.
Em 1965, liderou a campanha presidencial do candidato de extrema direita Jean-Louis Tixier-Vignancour e quatro anos depois juntou-se ao partido “Ordem Nova”.
Em 1971, não conseguiu ser reeleito deputado e tornou-se produtor musical, lançando quatro álbuns de músicas nazistas. Iniciativa pela qual foi condenado a dois meses de prisão com liberdade condicional por “apologia de crimes de guerra”.
Em 1972 Le Pen uniu vários movimentos de extrema-direita sob um único partido, o “Frente Nacional“, que se tornará o partido dos franceses que não se reconheciam nos ideais de 1968.
Todavia, nas eleições presidenciais de 1974, recebeu apenas 0,75% dos votos.
Não se candidatou para as eleições presidenciais de 1981, mas em 1984 foi eleito deputado europeu em Bruxelas. Um assento que Le Pen ocuparia até 2003, quando o Tribunal de Justiça Europeu decidiu sua remoção após a condenação criminal por agressão a um funcionário público. Ele voltará a ser eleito no Parlamento Europeu nas eleições do ano seguinte.
Ao longo dos anos sua força política foi crescendo na França. Nas eleições presidenciais de 1988 obteve 14% dos votos. Em 1995 aumentou o seu consenso em um ponto percentual. Sete anos depois, com 16,8% das preferências, alcançou um segundo turno histórico contra o então presidente de centro-direita, Jacques Chirac. O pleito foi vencido por Chirac com 82% contra 17,8% do líder do Frente Nacional.
Esse resultado não se repetiu nas eleições de 2007, quando obteve apenas 11% dos votos.
Os últimos anos de vida
Em 1996, Le Pen foi condenado por incitação ao ódio racial depois de descrever as câmaras de gás como “um simples detalhe na história da Segunda Guerra Mundial”. Frase que repetiria em 2015 e pela qual em 2018 foi forçado a pagar uma multa de 30 mil euros (cerca de R$ 200 mil).
A condenação também terá repercussões políticas internas no Frente Nacional. O partido passou nas mãos de sua filha Marine, que o sucedeu em 2011, e que lhe impõe a sua linha política.
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Uma virada para o centro que levou a expulsão do pai do partido que ele próprio fundou.
Comentando este parricídio político, Jean-Marie Le Pen dirá que sua filha foi “incorreta sob um plano moral” e que “esse parricídio a atormentará por toda a vida”. Os dois nunca mais se reconciliaram.
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