A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu, no fim do ano passado, anular uma sanção que havia sido aplicada a Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro. A decisão envolve a denúncia de que pastores atuavam no ministério em um “gabinete paralelo” e foi tomada na última reunião do colegiado de 2024, em 16 de dezembro.
A sanção anulada foi uma censura ética. A medida não tem o efeito concreto de uma multa, por exemplo, mas funciona como uma espécie de mancha no currículo. Um novo julgamento deverá ser realizado na próxima reunião do colegiado, marcada para 27 de janeiro.
+ Leia mais notícias de Política em Oeste
A investigação consiste na apuração da suposta influência exercida no ministério pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura. Eles facilitariam o acesso de pessoas ao ministro. Uma gravação vazada naquele período registrava Milton Ribeiro ao dizer que daria preferência a atender “a todos os que são amigos do pastor Gilmar”. O foco da investigação da Comissão de Ética é a declaração gravada do então ministro.
O relator do processo no colegiado foi Manoel Caetano, presidente da comissão. No voto em que recomendou a censura ética, ele afirmou que a declaração “colocou em dúvida a integridade e a clareza de posições da administração pública, em claro desvio de caráter ético-jurídico, bem como revelou o descumprimento do compromisso moral e dos padrões qualitativos estabelecidos para a conduta da alta administração”.
A anulação da decisão
A anulação da censura ética teve origem em embargos de declaração, tipo de recurso que pede esclarecimentos ou correções sobre uma decisão. Os representantes de Milton Ribeiro pediram a nulidade do julgamento sob o argumento de não ter havido intimação no fim da investigação nem na designação do julgamento, o que teria reduzido o direito de defesa do ex-ministro.
“Nem sequer foram concedidos ao embargante e sua defesa técnica o prazo para apresentar as alegações finais e a oportunidade para sustentar oralmente. Até mesmo porque o embargante apenas tomou conhecimento da sanção que lhe fora imposta quando já havia sido emitida e formalizada a conclusão do Colegiado”, afirmou a defesa de Milton Ribeiro.
Em seu novo voto, o presidente da Comissão de Ética, Manoel Caetano, concordou com a nulidade do julgamento, porque a publicação da pauta da reunião que decidiria pela censura ética não incluiu o nome do advogado de Milton Ribeiro, Daniel Bialski. Também determinou a inclusão de novo julgamento do processo na próxima reunião do colegiado, com intimação dos interessados.
A defesa do ex-ministro Milton Ribeiro
A defesa de Milton Ribeiro negou irregularidades tanto na época em que o caso foi divulgado quanto no processo da Comissão de Ética. Argumentou que a distribuição de recursos para municípios era realizada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e que não poderia interferir nos critérios de repasse.
Também disse que o áudio não menciona nenhuma contrapartida para o envio de recursos e que as notícias que embasavam a representação eram inverídicas. Milton Ribeiro deixou o Ministério da Educação por causa do escândalo. Depois, ainda em 2022, ele chegou a ser preso durante a investigação da Polícia Federal sobre o caso.
Agora, sobre a anulação da decisão da Comissão de Ética, a defesa reiterou que “ninguém pode ser julgado sem observância e respeito aos princípios constitucionais do devido processo, contraditório e ampla defesa. E, no caso, isso ocorreu, e por isso o procedimento foi anulado pela própria Comissão de Ética Pública da Presidência”.
Os advogados aguardam “o correto andamento do processo e a marcação dos demais atos processuais para possibilitar que se possa comprovar a plena inocência das acusações apresentadas, bem como evidenciar a conduta sempre proba, ética e correta de Milton Ribeiro enquanto ministro da Educação”, conforme nota divulgada na terça-feira 21.
Redação Oeste, com informações da Agência Estado
O post Comissão de Ética anula punição contra ex-ministro de Bolsonaro apareceu primeiro em Revista Oeste.