O cartunista era o americano Jules Feiffer, um dos astros do jornal Village Voice, de Nova York. No Brasil, ele saía mensalmente numa das revistas mais secretas (de circulação interna) e sofisticadas da imprensa brasileira: a Diners, em 1968, dirigida por Paulo Francis. A tradução de suas tiras em português era do secretário de Redação e crítico literário da revista, Telmo Martino.
Feiffer conseguia ser perturbador numa época, anos 1950 a 1970, em que os quadrinhos não se limitavam a super-heróis para menores de 13 anos. Eram feitos também para leitores adultos, de preferência os imaturos, mal resolvidos, cheios de questionamentos emocionais e intelectuais. Seus personagens, sempre um homem falando sozinho ou um casal em crise, eram os equivalentes das crianças de Charlie Schulz em “Peanuts”, do mesmo estilo e época. Mas o que mais se assemelharia a eles seria o neurótico e inseguro que Woody Allen criaria no cinema.
Feiffer morreu no dia 17 último em Nova York, aos 95 anos. Trabalhou até o último dia, não mais em cartuns, mas em livros ilustrados, peças de teatro e roteiros de filmes baseados em sua ficção. Um desses, “Ânsia de Amar”, de Mike Nichols, com Jack Nicholson e Candice Bergen, foi um acontecimento em 1971.
Acho que Feiffer aposentou suas tiras ao constatar que, com as redes sociais, nas quais todo mundo pode expor as próprias vísceras à vontade, não há mais lugar para neuróticos sensíveis.
Leia mais (01/23/2025 – 08h00)