Em meio à pressão para conter a alta dos preços dos alimentos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou a incapacidade de colocar comida na mesa dos brasileiros. E isso se deve, principalmente, à recusa de fazer um ajuste fiscal convincente e reduzir gastos públicos. A avaliação é do jornal O Estado de S.Paulo, em editorial publicado nesta quinta-feira, 30.
O texto critica a falta de clareza e a ineficácia das medidas propostas pela equipe do presidente Lula e mostra que, embora a missão de reduzir os preços dos alimentos tenha sido priorizada pelo presidente, as ações até agora sugeridas são insuficientes ou até mesmo contraproducentes.
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O editorial destaca que, depois da repercussão negativa de suas declarações, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, descartou a possibilidade de intervenções diretas do governo nos preços dos alimentos.
“Nenhuma medida heterodoxa será adotada, não haverá congelamento de preços, tabelamento, fiscalização, não terá fiscal do Lula nos supermercados e nas feiras”, prometeu o ministro.
Apesar de o governo ter evitado propostas mais radicais, como a criação de uma rede estatal de distribuição de alimentos ou a concessão de subsídios, as alternativas apresentadas até o momento também são consideradas inócuas.
Uma das medidas cogitadas pelo Executivo é a redução das alíquotas de importação de alguns alimentos, com o argumento de que esses produtos estariam mais baratos no exterior do que no Brasil. No entanto, o editorial do Estadão questiona a eficácia desta proposta.
O texto afirma que “a redução de impostos indiretos tende a ser absorvida ao longo da cadeia produtiva” e considera que o impacto no preço final ao consumidor seria mínimo.
Além disso, a valorização do dólar é apontada como um dos principais fatores por trás da alta dos alimentos, o que limita o efeito de qualquer medida que não atue sobre a taxa de câmbio.
O editorial também aborda as especificidades de setores como o de carnes e milho. No caso das proteínas, os problemas climáticos e a redução da oferta de bois depois de dois anos de muitos abates são citados como causas do aumento de preços.
Já no caso do cereal, a redução das tarifas de importação, hoje em 8%, não seria suficiente para garantir a competitividade do produto norte-americano ou argentino no mercado brasileiro.
Pior ainda, a medida poderia desestimular o plantio da segunda safra de milho no país, o que reduz a oferta nos próximos meses e agrava o problema.
Setor agrícola reage às medidas do governo Lula
A mera cogitação da redução de tarifas de importação foi suficiente para gerar reações negativas do setor agrícola. A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) classificou a proposta como “absolutamente perturbadora” e afirmou que o setor opera em condições normais.
“Isso é uma medida do século passado, não estamos mais lá”, criticou a entidade. O editorial do Estadão concorda com a avaliação e destaca que a medida reflete uma visão ultrapassada e intervencionista do governo.
O texto vai além e afirma que o problema do governo Lula não se limita à questão dos preços dos alimentos. Há, segundo o jornal, uma “incompreensão sobre o funcionamento dos mercados” e uma “visão ingênua sobre o poder do governo para interferir em qualquer área que seja”.
O editorial ressalta que toda intervenção gera consequências e que o setor afetado tende a reagir, o que pode resultar em efeitos indesejados. “Longe de ser exclusividade do agronegócio, isso se repete em muitas outras áreas, entre elas o mercado financeiro”, afirma.
O jornal também critica a postura do governo de atribuir a culpa pelos problemas econômicos a supostos “inimigos”, como o agronegócio e os investidores. “É uma visão bastante atrasada, mas também muito conveniente”, diz o texto.
O editorial sugere que, ao encontrar bodes expiatórios, o governo se exime de adotar medidas efetivas para melhorar o ambiente de negócios.
Em vez de focar em ações pontuais na cadeia de alimentos, o governo deveria, segundo o Estadão, atuar na origem do problema e reconhecer seu papel no agravamento da situação.
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A falta de disposição para cortar gastos no final do ano passado é apontada como uma das principais razões para a desvalorização do real frente ao dólar.
“Mais do que qualquer das medidas cogitadas na última semana, uma taxa de câmbio mais apreciada aliviaria os preços dos alimentos e, consequentemente, a inflação como um todo”, afirma o editorial.
No entanto, o jornal não espera que o governo faça uma autocrítica ou adote medidas impopulares, especialmente em um momento em que a reeleição parece ser a principal prioridade do Partido dos Trabalhadores.
O editorial do Estadão pinta um quadro em que o governo parece estar mais interessado em gestos simbólicos do que em soluções concretas para o problema da alta dos preços dos alimentos. Enquanto isso, os brasileiros continuam a sentir o peso da inflação no bolso, sem perspectivas de alívio no curto prazo.
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