Lula ‘engole’ alta de juros de apadrinhado e dá trégua ao Banco Central, dizem jornais

Como esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu a orientação dada na reunião de dezembro último e aumentou a taxa básica de juros em um ponto porcentual, para 13,25% ao ano. É o que destacam os jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo em editoriais desta sexta-feira, 31.

Unânime e sem surpresas, a decisão levou a Selic ao maior nível desde setembro de 2023.

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Desta vez, conforme o Estadão, foram poucas as vozes dispostas a criticar o Banco Central (BC). O tom foi dado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para quem o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, não poderia dar “um cavalo de pau em um mar revolto de uma hora para outra”. “Já estava praticamente demarcada a necessidade de subida de juros pelo outro presidente”, afirmou.

“A rara trégua dada ao Copom só ocorreu porque, na versão petista, ainda é possível atribuir toda a culpa a Roberto Campos Neto”, diz o jornal.

“Nós temos que ter paciência”, afirmou Lula. “Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central e tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor no tempo em que a política permitir que ele faça.”

Como disse o comunicado divulgado pelo Copom depois da reunião, o ambiente externo continua desafiador, há dúvidas sobre qual será o ritmo de desaceleração da economia americana e os bancos centrais das principais economias do mundo ainda lutam para conduzir a inflação à meta em meio a um mercado de trabalho pressionado.

“Não é diferente no Brasil”, afirma o Estadão. “A taxa de desemprego segue baixa, as projeções para a inflação estão acima da meta para este ano e 2026 e ainda subiram nas últimas semanas e a percepção dos investidores sobre a política fiscal e a trajetória da dívida continua a causar impactos relevantes nos preços dos ativos e nas expectativas.”

Se o Copom cumprir a rota indicada, haverá ao menos mais uma elevação de 1 ponto porcentual e a Selic irá a 14,25% ao ano em março, o maior nível desde o fim de 2016.

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Depois disso, o caminho está em aberto, o que é até compreensível em um momento de tantas incertezas e o retorno de Donald Trump à Casa Branca. Na conjuntura atual, os três meses até a reunião do Copom marcada para os dias 6 e 7 de maio parecem uma eternidade para sinalizar algo mais firme.

“Tantas dúvidas no cenário econômico poderiam ser parcialmente dissipadas se o governo estivesse disposto a ajudar a autoridade monetária com uma política fiscal mais austera”, avalia o veículo. “Sobre isso, no entanto, Lula não poderia ter sido mais claro e declarou que, a depender dele, não haverá novas medidas para cortar gastos. Como o BC lidará com esse cenário ainda é uma incógnita, mas, até maio, a instituição poderá contar com a condescendência do presidente da República.”

Folha diz que BC precisa ser mais explícito sobre juros em ata

Para a Folha, o BC terá de ser mais explícito na ata da reunião, que vai ser divulgada na próxima semana.

Gabriel Galípolo é o novo presidente do Banco Central (BC) | Foto: Reprodução/Twitter/X
Gabriel Galípolo é o novo presidente do Banco Central (BC) | Foto: Reprodução/Twitter/X

“As expectativas para o IPCA deste ano deram um grande salto, para 5,5% e em tendência de alta; para 2026, são mais de 4%”, afirma o jornal. “Conta-se no máximo, portanto, com uma queda paulatina do índice, mesmo com uma taxa real de juros de um ano próxima de 10% anuais. Trata-se de um ambiente tenso.”

“Decerto houve valorização inesperada do real, embora para um nível ainda ruim”, acrescenta. “É provável que o aumento do gasto federal seja menor neste ano — mas a administração petista não se mostra disposta a um ajuste que colabore para a missão do BC.”

Por ora, destaca o jornal, não estão à vista choques climáticos, e a safra de grãos deve ser recorde; não há no horizonte sinal de pressões advindas dos preços de outras commodities; prevê-se crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB).

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“Todos esses fatores devem ser colocados na balança”, opina a Folha. “É inescapável, de todo modo, que Galípolo inicia seu mandato sob condições desfavoráveis e terá de deixar clara sua visão do cenário.”

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