(*) Por Sara Ganime
Não precisa cursar jornalismo para saber que um dos pilares da profissão de um repórter é checar fatos. Isso inclui ouvir todos os lados envolvidos em um assunto durante a apuração de uma matéria, a fim de mostrar que existem diferentes pontos de vista sobre determinados assuntos. “Segundo fulano de tal…” e “Por outro lado, cicrano afirma que” são frases que frequentemente estampam os jornais.
Para comprovar o que dizem os especialistas, o jornalista deve buscar dados. Mas de onde vêm esses dados? São de uma instituição que tem um posicionamento claro? Se é uma pesquisa, quais foram os entrevistados? Responder a essas perguntas torna mais fácil entregar um conteúdo de credibilidade.
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Entretanto, nos últimos anos, uma forte onda de desinformação tem assolado as redes sociais e a própria imprensa. Seja por não investigarem as informações ou até mesmo com o objetivo de ser mal-intencionado. Mas a intenção deste artigo não é falar sobre desinformação, e, sim, sobre como um grupo de pessoas passou a usurpar esse termo para classificar opiniões e até mesmo fatos com os quais elas não concordam.
Esse problema vem evoluindo a cada dia, fazendo com que a sociedade civil e a imprensa, comumente chamada de “quarto poder”, vivam um relacionamento tóxico. Por um lado, temos jornalistas que dizem ser imparciais, mas que usam as palavras “atos terroristas” para falar sobre os protestos do dia 8 de janeiro de 2023. Do outro lado, temos essa parte da população frustrada e que já não acredita em nada do que os veículos tradicionais dizem, passando a crer apenas em mensagens nas redes sociais.
Os caminhos da imprensa
Mas onde está o meio termo de tudo isso? Aliás, é possível chegar ao meio do caminho? Usando ainda o exemplo dos “atos terroristas”, quantas vezes os jornalistas que assim os chamaram contaram a história desses tais “terroristas”? É questionável se investigaram a fundo o passado dessas pessoas, ouviram suas versões ou se apenas reproduziram o que as autoridades atacadas anunciaram sobre o ocorrido. Dessa forma, a parte frustrada se vê cada vez mais sabotada, sendo tomada por um forte sentimento de desconfiança.
Essa desconfiança se transformou em posicionamento nas redes sociais e levou a parte frustrada a se revoltar contra a mídia tradicional. Quando isso aconteceu, em vez de os jornalistas olharem para dentro das redações e se perguntarem se estão fazendo a coisa certa, preferiram iniciar uma campanha contra aqueles que pensam diferente.
Hoje, os jornalistas que deveriam ser os guardiões da informação com credibilidade são os guardiões da informação que eles acreditam. Sejam elas verdadeiras ou não. A pesquisa “Perfil do Jornalista Brasileiro” de 2021, elaborada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revelou que 52,8% dos jornalistas entrevistados se consideram de esquerda, enquanto 25,9% afirmou ser de centro-esquerda e 2% de extrema esquerda. No total, 80,7% nutre ideias socialistas, progressistas ou comunistas.
Isso mostra que 80% dos jornalistas estão escrevendo matérias com ideias enraizadas em suas mentes. Ou seja, desde o momento em que decidem quais pautas vão cobrir. Não é errado ter ideais e defender ideias nas quais acredita. Mas é hipocrisia dizer que o jornalismo não é tendencioso para ideias “progressistas” e de esquerda.
Fica cada vez mais claro que esse é um dos motivos pelos quais uma parcela da população não acredita no que a imprensa tradicional diz. Uma pesquisa do DataSenado de 2024 revelou que apenas 15% dos brasileiros se consideram de esquerda. Se entre os jornalistas esse número é de 80%, como quem acompanha as notícias verá credibilidade nesse conteúdo?
Dizem que, com o avanço das redes sociais e da informação imediata, a profissão do jornalista já não serve mais. Mas é necessário que exista, pois grande parte da população ainda assiste ao noticiário ou compra jornais nas bancas. A população precisa de contrapontos e precisa ter acesso a todas as informações. Quando veículos jornalísticos estão propagando apenas uma parte das ideias, a população não tem livre acesso à informação — e, consequentemente, não tem liberdade de pensamento e de escolha no que quer acreditar.
Por isso, que cada vez mais jornalistas corajosos ousem pensar diferente dos 80% que são de esquerda. Que não tenham medo de defender, por meio de matérias, as ideias da liberdade. Que os jornalistas escutem quem não tem tido voz, para que o indivíduo tenha cada vez mais liberdade de ser, agir e pensar da forma que quiser.
Sara Ganime é jornalista, CEO do Boletim da Liberdade e fellow do programa María Oropeza de Ativismo do LOLA. Atuou como repórter de política no Congresso Nacional e coordenou campanhas eleitorais no Rio de Janeiro.
O post Sara Ganime: ‘Era uma vez uma jornalista preocupada com os rumos da imprensa’ apareceu primeiro em Revista Oeste.