A taxa básica de juros do Brasil completou três anos em um patamar acima de dois dígitos — ou seja, igual ou superior a 10% ao ano — em fevereiro. A Selic deve seguir nesse nível por mais dois anos, no mínimo, de acordo com as projeções dos agentes financeiros.
Caso a projeção se confirme, o juro base vai completar cinco anos acima de dois dígitos. Seria o segundo maior período da Selic acima de 10% no século XXI. A última vez que a taxa de juros esteve abaixo desse nível foi em fevereiro de 2022, quando o Banco Central subiu o nível de 9,25% para 10,75%.
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Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 29 de janeiro, a autarquia aumentou a Selic novamente, em 1 ponto porcentual, para 13,35% ao ano. Foi o quarto reajuste consecutivo na Selic, e o Copom já prometeu um novo aumento de mesma magnitude para a reunião de março.
![Taxa de juros completa 3 anos acima de 10%, sem previsão de queda abaixo desse nível até 2028](https://medias.revistaoeste.com/wp-content/uploads/2025/02/traj-selic-sec-xxi.png)
A expectativa do mercado é que a taxa básica de juros do país feche o ano a 15%, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 10. Seria o maior patamar desde 2006. De acordo com a mediana das projeções dos agentes de mercado, a Selic deve voltar a 10% apenas no final de 2028.
Em paralelo, as expectativas de inflação sobem. A projeção para o IPCA em 2025 registrou alta pela 17ª semana consecutiva no Boletim Focus, para 5,58% ao fim do ano. A alta generalizada dos preços tem assombrado os números do crescimento econômico do Brasil.
O aumento da Selic e o desempenho da economia
Os anos de aumento dos juros coincidem com um desempenho positivo da atividade econômica do Brasil. O Produto Interno Bruto (PIB) do país subiu 3% em 2022, 3,2% em 2023 e, de acordo com as projeções do mercado, 3,5% no ano passado.
Já o estoque de crédito cresceu 14,5% em 2022, 8,1% em 2023 e 10,9% em 2024.
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Além disso, o mercado de trabalho ficou mais aquecido, com queda anual da taxa de desemprego de 7,9% para 6,2% entre 2022 e 2024. A taxa de ocupação atingiu recorde anual.
Entretanto, o crescimento econômico veio acompanhado de inflação — esse fator, inclusive, gerou o aumento recorde da arrecadação do governo federal. A inflação segue fora do intervalo permitido na meta para 2025, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu que esse cenário deve se manter até junho.
Assim, o Banco Central deve manter a trajetória de alta da taxa Selic. Em dezembro, o Brasil voltou a ter o segundo maior juro real do mundo, em 9,48%, segundo projeção da MoneYou. O país fica atrás somente da Rússia.
No Relatório Trimestral de Inflação divulgado em dezembro passado, a autarquia disse que a taxa de juros real neutra do Brasil é 5%. De acordo com o documento, a variável é “sujeita a elevada incerteza na sua mensuração”. Isto é, quando o juro real está acima desse patamar, há uma política monetária contracionista.
Economistas comentam trajetória dos juros
Em entrevista ao portal Poder360, o sócio-diretor da MAG Investimentos, Claudio Pires, disse que o crescimento da economia é efeito do impulso fiscal e da expansão de gastos públicos. Ele afirma que o patamar de juros está muito alto e deve atingir níveis superiores a 15% em 2025.
“O Banco Central precisa elevar os juros para o patamar muito restritivo porque o governo, por outro lado, está acelerando gastos e a maior parte destes gastos não está relacionado a investimento ou a algo que no médio prazo se traduza em aumento da capacidade de oferta da economia”, disse o economista.
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Pires disse ainda que o crescimento das despesas públicas está relacionado à transferência de renda com alta propensão de consumo, o que pressiona a inflação.
“Outra questão é que tivemos uma forte desvalorização da moeda no ano passado”, explica. “Isso também pressiona a inflação e, então, o Banco Central também precisa combater os efeitos da desvalorização do real.”
Ecio Costa, economista e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), diz que o crescimento anual do PIB acima de 3% em 2023 e 2024 foi muito puxado pelo impulso fiscal. “Em 2023, houve mais de R$ 200 bilhões de déficit fiscal e, em 2024, mais déficit fiscal”, o que “tem impulsionado muito a economia”.
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O economista comparou com o cenário de expectativas dos juros futuros em 2016 e 2017. “Quando teve a aprovação do teto fiscal de Temer, que tinha uma meta fiscal programada que deveria ser cumprida e as despesas só poderiam seguir de acordo com a inflação, os juros futuros, em poucos meses, desabaram”, explica.
Quanto ao mercado de trabalho aquecido, o economista disse que a taxa de desemprego tem caído porque os programas sociais têm feito muitas famílias deixarem de procurar trabalho. “Isso é algo problemático na economia brasileira”, comenta.
“Tem vários setores que reclamam de falta de mão de obra, como da construção civil […] Os trabalhadores preferem receber o programa social e fazer bicos”, explicou Costa.
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Outro motivo para a atividade econômica aquecida é o setor de serviços mais modernizado por causa da pandemia de covid-19. Com o isolamento social, a tecnologia tomou parte do espaço da prestação de serviços.
Costa disse também que o governo Jair Bolsonaro (PL) potencializou o crédito livre, que é o negociado no mercado, em detrimento dos empréstimos com recursos direcionados — os quais são subsidiados e podem ter impacto fiscal.
“O efeito da Selic acima de 10% ou a Selic alta é mitigado pela questão do crédito direcionado”, disse ele ao Poder360. “Quanto mais crédito direcionado você tem, a potência da Selic mais alta é inibida, porque tem crédito direcionado mais baixo.”
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