Estadão: ministro de Lula é desmentido pela Casa Civil sobre reajuste no Bolsa Família

A desautorização curta, seca e taxativa do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, pela Casa Civil, a propósito da possibilidade de reajuste do benefício do Bolsa Família, é sintoma típico de um governo que bate cabeça. É o que afirma o jornal O Estado de S.Paulo em editorial desta quarta-feira, 12.

Na busca por soluções milagrosas que, ao mesmo tempo, façam sumir os efeitos deletérios da inflação e resgatem a popularidade perdida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ideias surgem em profusão. “Mas, como não existe milagre para recolocar a economia nos trilhos, o resultado é, quase sempre, desastroso”, diz o jornal. “Foi este o caso, mais uma vez.”

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Em entrevista recente à Deutsche Welle, Dias afirmou que o reajuste do benefício “está na mesa” e que a decisão seria tomada “até o fim de março”. Ao portal, o ministro informou que sua pasta está preparando um relatório sobre o Bolsa Família.

“Temos que manter [o benefício no piso de] US$ 40, que é o padrão internacional para o consumo”, disse. “Nisso haverá pouca alteração. O problema é o preço dos alimentos, que teve essa elevação brusca do fim do ano passado para cá.”

Em sua lógica, uma alteração no Bolsa Família contribuiria para suavizar o impacto da inflação sobre a população mais pobre. “Será um ajuste?”, comentou Dias. “Será um complemento na alimentação?”. Segundo o ministro, a decisão seria tomada “dialogando com o presidente”.

A repercussão imediata foi o lacônico comunicado da Casa Civil, negando estudos sobre o assunto e afirmando que o tema “não está na pauta do governo e não será discutido”. Na sequência, um comunicado do próprio Wellington Dias desmentiu a informação, com o cuidado de frisar que o ministério está comprometido com a responsabilidade fiscal.

“Diante da avidez com que o governo busca fórmulas que reacendam a aura de Lula da Silva até as eleições de 2026, não parece inverossímil que o assunto tenha sido, de fato, colocado à mesa”, afirma o Estadão. “Ainda mais porque a medida provisória que criou, em março de 2023, o ‘novo Bolsa Família’ […] fixava prazo de dois anos para reajustar os valores dos benefícios e a linha de corte de quem é elegível ao programa.”

Para o jornal, não parece ser por acaso que o prazo estabelecido pela proposta e a declaração do ministro coincidam.

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Na época, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome chegou a informar que a intenção era a de que as famílias beneficiárias não ficassem mais de 24 meses sem atualização no benefício, para evitar que a inflação viesse a corroer o poder de compra.

O Bolsa Família é a vitrine dos programas sociais de governos petistas e funciona como uma espécie de passaporte eleitoral. Mas, por óbvio, o custo precisa caber no cobertor curto do Orçamento anual do governo.

“Elevar o valor do benefício para combater os efeitos da inflação, no entanto, é um contrassenso”, avalia o veículo. “Atacar as consequências – em vez das causas da inflação – não resolve o problema.”

Ministro Wellington Dias deu entrevista para um portal alemão e falou sobre Bolsa Família | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Ministro Wellington Dias deu entrevista para um portal alemão e falou sobre Bolsa Família | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

“O governo sabe que a forma de contribuir para estabilizar os preços é, em primeiro lugar, equilibrar o Orçamento público, sem artifícios ou espertezas, como tem sido visto no expurgo de gastos de políticas expansionistas da contabilidade federal”, acrescenta.

Além de Bolsa Família, ministro relativiza estouro da meta de inflação

Na mesma entrevista ao portal alemão, Dias, um petista histórico, relativizou com notável naturalidade o estouro da meta de inflação no ano passado. “Se a meta era 4,5% e fechamos em 4,8%, ficamos praticamente na meta, né?”, disse o ministro, atribuindo a ataques especulativos o descontrole cambial e criticando a reação do Banco Central, que, com a alta de juros, estaria “fazendo o contrário do seu papel”.

“É provável que a confusão criada por Wellington Dias ao alimentar as expectativas dos beneficiários do Bolsa Família, além de provocar uma súbita queda da bolsa e um aumento do dólar, tenha se instalado não pelo que disse, e sim por tê-lo dito”, analisa o Estadão.

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“Não foi a primeira tampouco será a última vez que um governo sem foco programático e movido única e exclusivamente pelo ímpeto de Lula da Silva em se reeleger cometerá trapalhadas desse tipo”, conclui o texto.

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