Festival de Cinema de Berlim começa com críticas a Trump com os velhos clichês progressistas

Começa hoje, na Alemanha, a 75ª edição da Berlinale, ou Festival Internacional de Cinema de Berlim, um dos maiores e mais importantes eventos de cinema do mundo. Desde sua criação, o festival se inseriu na cena cultural como uma grande vitrine da indústria cinematográfica, ao contar com representantes de diversos países e suas produções em busca dos troféus Urso de Ouro e Urso de Prata. O Brasil aparece nessa lista com Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, em 1998, e Tropa de Elite, assinado por José Padilha, em 2008. Ambas as produções levaram para casa o cobiçado Urso de Ouro.

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Mas a Berlinale, assim como praticamente todos os festivais de cinema mais relevantes do mundo, é o ambiente adequado para uma classe artística alinhada ao progressismo, sempre disposta a se apropriar da grande audiência de eventos como esse para esbravejar seus discursos sobre o fim da democracia, o domínio fascista, a extrema direita e todos aqueles velhos clichês esquerdistas. É exatamente o que fez o cineasta norte-americano Todd Haynes nesta quinta-feira, durante coletiva de imprensa do júri na Berlinale. Quando questionado sobre suas impressões a respeito das primeiras semanas do presidente Donald Trump de volta à Casa Branca, Haynes não pensou duas vezes em descrever os EUA como um estado em crise catastrófica. “Estamos em um estado de crise particular agora nos Estados Unidos, mas também globalmente”, disse. “Estamos testemunhando essa enxurrada de ações nas primeiras três semanas do governo Trump com tremenda preocupação e choque.”

O Festival de Berlin 2025 está começando três semanas depois da posse do presidente Trump, que até aqui vem cumprindo algumas de suas principais promessas de campanha, como mudanças de política em torno da imigração, tarifas comerciais e ajuda externa. Neste exato momento, a Alemanha se prepara para as eleições gerais, que ocorrem em 23 de fevereiro. O partido AfD, liberal de direita, aparece na segunda posição nas pesquisas de intenções de votos, o que provoca pânico da ala esquerdista.

Um diretor underground e suas lamúrias

Ainda assim, Todd Haynes considerou que esse era o melhor momento para lamúrias. “Acho que isso tem sido parte da estratégia para criar uma sensação de desestabilização e choque nas pessoas, de modo que a forma como procedemos em direção à coalescência de diferentes formas de resistência ainda está em andamento e ainda está sendo descoberta entre os democratas”, disse. “Não tenho dúvidas de que muitas pessoas que votaram nesse presidente ficarão rapidamente desiludidas com as promessas que ele fez sobre a estabilidade econômica nos Estados Unidos.”

Recentemente, Trump classificou a Usaid como uma ‘fraude’ | Foto: Reprodução/Twitter/X
Recentemente, Trump classificou a Usaid como uma ‘fraude’ | Foto: Reprodução/Twitter/X

Todd Haynes foi convidado para o Festival de Berlin para ser o presidente do júri. A menos que o leitor seja um dedicado cinéfilo, é provável que a maioria das pessoas nem sequer tenha ouvido falar em seu nome. Mas, sim, ele é um cineasta relativamente conhecido no ambiente chamado underground e considerado pioneiro do New Queer Cinema. Entre seus trabalhos de maior destaque estão Não Estou Lá, estrelado por Cate Blanchett, e o recente Segredos de um Escândalo, com Natalie Portman e Julianne Moore.

Mas vale lembrar que Haynes, ainda em início de carreira, foi indicado ao Oscar pelo curta-metragem Superstar: a História de Karen Carpenter, no qual o diretor utilizou bonecas Barbie no lugar de atrizes para encenar a trágica morte da cantora por anorexia. Ocorre que Haynes colocou na trilha sonora várias músicas da famosa dupla Carpenters e não pagou pelos diretos autorais. Resultado: ele foi processado pelo irmão de Karen, Richard Carpenter, teve de pagar uma multa altíssima, e o filme foi recolhido do mercado.

Na Argentina, Milei acabou com a farra

Para acompanhar Haynes no júri do Festival de Cinema de Berlim foram convidados o diretor Nabil Ayouch (Marrocos/França), a figurinista Bina Daigeler (Alemanha), o ator Fan Bingbing (China), o diretor Rodrigo Moreno (Argentina), a crítica de cinema e autora Amy Nicholson (EUA) e a diretora, atriz e roteirista Maria Schrader (Alemanha). Na coletiva de imprensa, o argentino Rodrigo Moreno também subiu no palanque para denunciar “o governo de extrema direita de Javier Milei”, que teria destruído o cinema na Argentina, criando uma situação alarmante para os cineastas.

“Faz um ano que temos esse governo, esse cara louco, fascista se pronunciando todos os dias, contra gays, contra cientistas, contra educadores, contra cineastas, artistas, o que é um pesadelo para nós”, disse ele. Moreno ainda reclamou que, “neste ano, não houve nenhum filme produzido na Argentina”, sem mencionar que (assim como ocorre no Brasil), o cinema só existe porque é bancado com dinheiro público, sem nenhum tipo de contrapartida. O que o presidente Milei fez foi simplesmente acabar com a farra.

Festival de Cinema de Berlim
As estrelas milionárias que desfilam sobre o tapete vermelho do Festival de Berlim | Foto: Reprodução/Site Berlinale

Já a nova diretora do Festival de Cinema de Berlim, Tricia Tuttle, descreveu o festival como “ato de resistência” às ideias exaltadas por líderes e políticos de direita “em todo o mundo, na Europa e em Berlim”. “O próprio fato de estarmos todos aqui é uma resistência, e é muito importante”, disse ela. Tricia Tuttle só se esquece que ela está à frente do Festival de Berlin, onde nesta noite estarão desfilando pelo tapete vermelho algumas das maiores e mais ricas celebridades do cinema mundial, em particular de Hollywood. Tricia Tuttle, assim como Todd Haynes, se esquece principalmente que está em Berlim, na Alemanha, que até recentemente convivia com um muro que dividia o país em dois: um democrata e capitalista, outro uma ditadura socialista. Aparentemente ninguém contou para Tricia Tuttle para qual lado a população fugiu quando o muro de Berlin foi derrubado, em 9 de novembro de 1989.

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