Cacá Diegues: confira seis filmes do diretor que fogem da presunção do Cinema Novo

O cineasta, roteirista e produtor Cacá Diegues morreu nesta sexta-feira, 14, aos 84 anos. Assim, morre também o último integrante com alguma relevância do Cinema Novo, aquele movimento cinematográfico idealizado entre as décadas de 1960 e 1970, inspirado no Neorrealismo italiano e na Nouvelle Vague francesa. Pautado por uma ideologia progressista/marxista, o Cinema Novo julgou ser uma ideia de gênio usar os filmes como informe publicitário de um Brasil do Terceiro Mundo.

A pobreza, o malandro, os meninos de rua e as favelas dos morros cariocas sempre foram, mais do que cenários, personagens centrais nas produções desse movimento. Não é por acaso que um dos nomes mais lembrados, tido como principal expoente do Cinema Novo, seja o mesmo Glauber Rocha a quem se credita o título de “pai da estética da fome” e aquele que cunhou a famosa frase “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.

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Além de outros diretores pertencentes ao Cinema Novo, como Nelson Pereira dos Santos e principalmente a dupla Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman, Cacá Diegues certamente buscava traduzir em imagens um olhar social e político do Brasil. Frequentemente o objetivo era alcançado, mas em produções que passavam longe da tal estética da fome apregoada por Glauber Rocha, cujos filmes incompreensíveis com sua oratória arrogante só conseguia afugentar o grande público e tornaram-se, todos eles, fracassos retumbantes nas bilheterias — Deus e o Diabo na Terra do Sol, que Glauber escreveu e dirigiu, segundo ele mesmo foi realizado para “sugerir que apenas a violência ajudará aqueles que são extremamente oprimidos”.

Cacá Diegues, felizmente, nunca escondeu que fazia cinema pensando no público. Nem sempre acertava, o que é perfeitamente compreensível, mas há alguns bons títulos, com histórias bem contadas, personagens simpáticos que se conectam com os espectadores e sobretudo feitos com qualidade técnica. Confira seis filmes dirigidos por Cacá Diegues que não irão desagradar.

Bye Bye Brasil (1980)
Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, este é certamente o mais conhecido e também o mais agradável trabalho do cineasta. José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior encabeçam o elenco interpretando os personagens principais: Lorde Cigano, Salomé e Andorinha, três artistas ambulantes que cruzam o país com a Caravana Rolidei. Entre um espetáculo e outro nas comunidades mais remotas do Brasil, o filme apresenta de forma sensível, divertida e comovente uma parte da população brasileira mais humilde e que sequer tem acesso à televisão.

Tieta do Agreste (1996)
O romance homônimo de Jorge Amado é fonte de inspiração de Cacá nesta adaptação para o cinema de uma história amplamente conhecida do público pela televisão (na novela da Rede Globo, Tieta, exibida entre 1989 e 1990). Ambientada na fictícia cidadezinha de Sant’Ana do Agreste, no sertão baiano, a história começa quando Tieta, aos 17 anos, é uma jovem extrovertida, liberal e que deseja conhecer o mundo. Seu comportamento não agrada a população da cidade e é considerado escandaloso e imoral pela irmã mais velha de Tieta, a amargurada beata Perpétua, que convence o pai a expulsar a moça de casa.

Passados vinte e seis anos, quando todos consideravam que ela estivesse morta, Tieta retorna a Sant’Ana do Agreste. Só que agora Tieta (Sônia Braga) é uma mulher fina, elegante e rica. Predicados que aparentemente não fazem muita diferença para a invejosa irmã Perpétua (Marília Pêra), mas que vai agradar demais o pai (Chico Anysio), um velho ambicioso e interesseiro.

Xica da Silva (1976)
Uma comédia dramática ambientada no Brasil colonial, na segunda metade do século 18, quando o representante da Coroa Portuguesa, João Fernandes de Oliveira (Walmor Chagas), chega às terras das Minas Gerais e se apaixona pela escrava negra Xica da Silva (Zezé Motta). João Fernandes decide comprar a escrava para poder ficar mais próximo dela em tempo integral.

Vivendo como um casal, Xica assume o papel de Rainha do Diamante, satisfazendo todos os seus desejos mais extravagantes, o que não demora para chamar a atenção dos moradores das redondezas. Xica da Silva foi um dos filmes mais populares no ano de seu lançamento, tendo sido visto por mais de três milhões de pessoas. Zezé Motta, com a personagem, tornou-se um dos nomes mais importantes do cinema e da televisão.

Chuvas de Verão (1978)
Afonso (Jofre Soares) é um funcionário público que espera ansioso por sua aposentadoria. Morador do subúrbio carioca, já com 70 anos de idade, tudo o que ele quer agora é não fazer nada e passar o dia de pijama no sofá da sala. Mas logo na primeira semana como aposentado, Afonso descobre que um sequestrador perseguido pela polícia é o namorado de sua empregada. Pior: a moça o mantém escondido em sua casa.

Ao mesmo tempo em que precisa lidar com esse grande problema, Afonso inicia um romance com Isaura (Miriam Pires), uma vizinha de longa data. Quando foi exibido nos cinemas, Chuvas de Verão causou um certo burburinho por mostrar uma cena de amor entre os personagens de Jofre Soares e Miriam Pires. Considerada tanto polêmica quanto revolucionária, a sequência dirigida por Cacá Diegues foi uma das primeiras a mostrar o nu e o sexo na terceira idade.

Chuvas de Verão
Jofre Soares e Miriam Pires em cena do filme “Chuvas de Verão” | Foto: Reprodução

Um Trem para as Estrelas (1987)
Depois de uma noite de amor, Nicinha (Ana Beatriz Wiltgen) deixa a casa do namorado no subúrbio do Rio de Janeiro e desaparece misteriosamente. Vinicius (Guilherme Fontes), um jovem músico, entra em desespero e parte para uma jornada pela noite carioca, cruzando a cidade, a fim de encontrar a namorada. Durante sua odisseia, Vinicius irá se confrontar com a violência, a miséria e as injustiças do Rio de Janeiro. Cazuza, que interpreta a música que dá título ao filme, faz uma participação como ele mesmo.

Deus é Brasileiro (2003)
Com roteiro baseado no conto O Santo que não Acreditava em Deus, de João Ubaldo Ribeiro, Cacá Diegues, João Emanuel Carneiro e Renata de Almeida fizeram a adaptação desta comédia que apresenta Deus (Antônio Fagundes) ligeiramente desiludido com a humanidade. É quando o Todo Poderoso decide tirar férias e curtir uma praia tranquila. Só que antes disso ele precisa encontrar alguém para assumir temporariamente suas funções. E assim ele convoca um brasileiro, o pescador Edvaltécio Taoca (Wagner Moura), para que juntos possam encontrar um substituto perfeito.

Cacá Diegues estava trabalhando num novo filme que seria uma espécie de continuação de Deus é Brasileiro, previsto para ser lançado no segundo semestre de 2025. Segundo o diretor, era mais um spin-off, com personagens e situações inspiradas em seu filme.

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