Lula cultiva ‘silêncio ensurdecedor sobre a pauta anticorrupção’, diz Estadão

O jornal O Estado de S. Paulo comentou, em editorial nesta quarta-feira, 19, a queda de posição do Brasil no Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional (TI). O país foi do 69º lugar, no início da série histórica em 2012, para o 107º, entre 180 países. 

É a pior colocação do Brasil desde o início da série histórica. 

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A reação do governo, diz o Estadão, foi abrir fogo contra o mensageiro das más notícias, através da Controladoria-Geral a União (CGU), “como já virou rotina”. O ministro Vinícius Marques desdenhou dos dados da TI, aos quais chamou de “conversa de boteco”, e cobrou a instituição por algo que ela nunca prometeu: um índice de ocorrência da corrupção. 


“A ironia é que esse mesmo índice ora espinafrado pelo governo de Lula da Silva foi considerado confiável e pertinente pelos petistas quando apontou problemas nos governos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro”, diz o jornal. 

Como lembra o editorial, a corrupção é, por natureza, um crime obscuro. “Assassinatos ou roubos são facilmente mensuráveis, ainda que os criminosos não sejam identificados ou punidos”, diz o texto. “Mas, quanto mais competentes os corruptos, mais invisíveis são seus crimes.”

Por causa disso, o IPC cruza dados de 13 organizações internacionais reputadas com enquetes com lideranças jurídicas, empresariais e acadêmicas para medir a “percepção”. Fatores como arbitrariedade e falta de transparência, que criam um ecossistema fértil para a ilicitude, são os parâmetros para essas perspectivas. 

Mapa de percepção de corrupção no mundo em 2024 | Foto: Divulgação/Transparência Internacional
Mapa de percepção de corrupção no mundo em 2024 | Foto: Divulgação/Transparência Internacional

Então, a partir das percepções dos especialistas, o relatório da TI elenca condições concretas de risco ou probabilidade de corrupção. Ou seja, o cardápio de “ocasiões” que fazem os ladrões, na linguagem popular. Em 2024, muitos desses campos foram gestados no Executivo, Judiciário e Legislativo.

O presidente Lula, diz o Estadão, “não só cultiva um silêncio ensurdecedor sobre a pauta anticorrupção, como concertou com o Congresso o fortalecimento das emendas ao Orçamento — uma usina de irregularidades —, omitiu-se diante de indícios de desvios na Codevasf e de mau comportamento de seu ministro das Comunicações, premiou com benefícios bilionários os irmãos Batista — outrora relacionados a cabeludos casos de corrupção —, interferiu na gestão de estatais para acomodar apadrinhados, bateu recordes de negativas a pedidos de acesso à informação e mantém nas sombras as operações do ‘Novo PAC’”.

Assim, “para a surpresa de ninguém”, a TI constatou que “foi no âmbito do Judiciário, em particular no STF, onde mais se avançou, em 2024, o desmonte da luta contra a corrupção”. As canetadas monocráticas de Dias Toffoli, diz o Estadão, anularam no atacado provas e multas contra centenas de criminosos confessos condenados na Operação Lava Jato. 

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A Procuradoria-Geral da República chegou a apresentar recursos contra todas essas decisões, mas os ministros “não encontraram tempo para julgá-los”, pois estavam “emaranhados em conflitos de interesses, espremidos entre eventos de lobistas”, completa o jornal.

Já o Congresso, mesmo em meio ao esforço intenso para legalizar cassinos e bets, encontra tempo para ampliar com apetite voraz o volume e as modalidades das emendas. Esses mecanismos, “sob uma cortina de fumaça regimental, degradam políticas públicas, pulverizam a corrupção e distorcem a competição democrática”, afirma o editorial.

Cresce a parcela da população que percebe aumento da corrupção no governo Lula

A captura do Estado por corporações oligárquicas vem acompanhada da infiltração cada vez mais desabrida do crime organizado nos espaços de poder, prossegue o texto do Estadão

Toffoli foi um dos principais responsáveis pelo desmantelamento da Lava Jato, diz o New York Times
Dias Toffoli foi advogado do PT e advogado pessoal de Lula antes de ir para o STF | Foto:
José Cruz/Agência Brasil

Em nota oficial, a CGU sugere que o governo está sendo penalizado por seu afinco no combate à corrupção, já que a “exposição de casos e investigações impacta negativamente a percepção sobre o problema”. 

Longe de reconhecer a gravidade dos fatores de risco cotejados pelo IPC, a CGU entende que o relatório em si mina a “confiança nas instituições democráticas” ao se embasar em pesquisas com “empresários” que não exprimem a “percepção da população” e distorcem o debate. 

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Como afirma o Estadão, faltou pouco para o governo denunciar a TI como “um agente de desinformação da extrema direita, empenhada em atacar a democracia e conspirar contra o governo do povo”.

No mesmo dia da divulgação do relatório, ironicamente, uma pesquisa do PoderData revelou que, em um ano, cresceu de 39% para 45% a parcela da população que acha que aumentou a corrupção sob Lula. 

Outra pesquisa, da Atlas, informou que as maiores preocupações da população são, de longe, a criminalidade e a corrupção, e entre as maiores reprovações ao governo estão justamente o combate à criminalidade e à corrupção.

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