A história centenária da empresa argentina que deixou o Brasil

Na coluna de economia publicada na Edição 256 da Revista Oeste, o jornalista Carlo Cauti noticiou a despedida da empresa argentina YPF do Brasil. A estatal petrolífera anunciou o encerramento de suas operações no país na última semana.

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A empresa vendeu sua operação brasileira para a Usiquímica. Mesmo assim, a estatal segue a receber royalties pelo licenciamento da marca e apoiar a Usiquímica no desenvolvimento de produtos. A íntegra do texto “Reabrem-se as torneiras do BNDES” está disponível aos mais de 100 mil assinantes da Revista Oeste.

Em novembro de 2023, em sua primeira entrevista como presidente da Argentina, o libertário Javier Milei sinalizou para a privatização da YPF. No entanto, em janeiro de 2024, ele voltou atrás em seu projeto depois de negociar com o Congresso do país.

Empresa argentina YPF conta com mais de 100 anos

A Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) foi fundada em 1922 e se tornou a primeira grande estatal argentina e pioneira na exploração de petróleo na América Latina. A fins de comparação, a Petrobras foi criada apenas 31 anos depois.

Fundada durante o governo de Hipólito Yrigoyen, a empresa surgiu em um contexto de tentativa de controle estatal sobre os recursos naturais do país, a fim de reduzir a dependência de companhias estrangeiras no setor de hidrocarbonetos. Em 1935, uma lei estabeleceu a autossuficiência nacional como objetivo estratégico, o que concedeu o controle das jazidas ao Estado.

No ano seguinte, o setor foi rigidamente regulamentado, o que restringiu exportações e impôs limites às importações. A medida pressionou as multinacionais Esso e Shell a focarem exclusivamente no refino e na distribuição, o que consolidou a presença da YPF como operadora dominante.

A nacionalização completa ocorreu em 1958, quando a pesquisa, extração e transporte de combustíveis fósseis foram atribuídos exclusivamente à YPF e outras estatais do setor energético do país latino-americano.

Durante os anos seguintes, no entanto, políticas de governo oscilaram entre a defesa do controle estatal e a abertura ao capital privado. Em 1967, sob o governo militar de Juan Carlos Onganía, foram permitidas concessões ao setor privado e contratos da YPF com empresas terceirizadas.

O cenário voltou a mudar em 1974, com a retomada do controle estatal da produção à distribuição sob o governo de Juan Domingo Perón. Essa política foi mantida durante o regime militar, que impôs restrições ao setor privado e garantiu que toda produção fosse vendida à YPF a preços determinados pelo governo.

Navio sonda para a prospecção de petróleo nas Guianas | Foto: Reprodução

Nos anos 1990, a política econômica do presidente Carlos Menem resultou na privatização da YPF. O governo promoveu a liberalização do setor e eliminou regulamentações, o que permitiu que empresas privadas obtivessem concessões para exploração.

A privatização reduziu drasticamente o número de funcionários da YPF, que passou de 51 mil empregados em 1990 para cerca de 6,5 mil em 1994. Em 1999, a espanhola Repsol adquiriu a estatal e a transformou em uma companhia multinacional de médio porte.

Com a privatização, a YPF aumentou sua produção e exportação, mas também enfrentou críticas pela redução dos investimentos em novas explorações e pela queda na produção em áreas recentemente privatizadas. Muitas das concessionárias focaram em maximizar lucros sem investir na recuperação de poços antigos ou na busca por novas reservas.

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A crise econômica argentina no começo dos anos 2000 teve forte impacto na Repsol-YPF. A desvalorização cambial reduziu o valor dos ativos da empresa, e medidas governamentais, como o congelamento de preços, afetaram sua rentabilidade.

Em 2005, o governo de Néstor Kirchner começou a adotar uma política de maior intervenção no setor energético. Foram criadas iniciativas para ampliar a presença estatal e garantir maior controle sobre os preços dos combustíveis.

Diante do declínio das reservas de petróleo e gás natural e da falta de investimentos, a YPF enfrentou desafios. A crise energética argentina levou o governo a discutir formas de reverter os efeitos da privatização, o que culminaria anos depois na reestatização parcial da empresa em 2012.

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