Donald Trump tem usado a capacidade de taxar as importações americanas como instrumento para negociar com os países que exportam para os EUA. Trump usa de instrumentos econômicos para obter resultados políticos.
Os EUA têm um longo histórico de baixas tarifas aduaneiras, um dos motivos da alta capacidade de consumo dos cidadãos americanos. Com a imposição de tarifas, os países que exportam para os EUA têm mais dificuldade de vender seus produtos nesse mercado. Ao mesmo tempo, isso torna a vida dos consumidores americanos mais cara, seja porque os produtos importados têm seus preços elevados pela taxação, seja pela redução da competição no mercado interno.
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Na prática, qualquer medida governamental que torne um produto mais caro irá empobrecer o consumidor, pois menos produtos poderá consumir. Trump sabe disso, afinal, gostemos ou não, ele é um experimentado empresário. Ao decidir elevar as tarifas de importação dos produtos de alguns países, considera que os impactos políticos são mais relevantes que os econômicos. Ou seja, o custo de vida aumentará nos EUA, o consumidor ficará mais pobre, mas comparativamente ainda muito mais afluente, com mais poder de compra, que os consumidores dos países afetados pelo aumento das tarifas.
A pior resposta que os países afetados podem dar a esse obstáculo criado por Trump é também aumentar as tarifas sobre produtos originários dos EUA. Os consumidores desses países serão duplamente afetados. Os produtos importados dos EUA terão os preços aumentados pela tarifa e os produtos do mercado interno ficarão mais caros. A falta de concorrência potencialmente trará também uma redução na qualidade dos produtos domésticos.
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No Brasil, as consequências da taxação sobre as importações foram muito didáticas. Vimos o que ocorreu no mercado automobilístico onde as altas tarifas de importação nos fizeram ter veículos ultrapassados — “carroças”, segundo o presidente Collor; também na informática, em que fomos deixados em décadas de atraso nos anos 90. Ou ainda, a persistente taxação à importação de vinhos que não melhorou o nacional, apenas o encareceu — e assim em vários outros setores.
É justamente por sermos mais pobres que os americanos, como nação e como indivíduos, que revidar as tarifas de Trump com mais taxação pelo nosso lado é um grave erro. Isso nos empobrece ao reduzir nossas possibilidades de consumo e tem maior efeito na base da pirâmide social.
O mesmo raciocínio devemos ter em relação às tarifas aduaneiras. Elas contribuem para a melhoria da renda dos residentes no Brasil? De outra forma, é jogar um jogo de soma zero que, como sabemos, não pode ter mais de um vencedor.
André Burger
Quando Lula e Haddad declaram que irão taxar o que for importado dos EUA, podemos tirar uma de duas conclusões. A primeira seria que nada entendem de economia e tratam a política econômica como um jogo de soma zero com o ultrapassado conhecimento dos mercantilistas. Eventualmente, até fazem cálculos de que isso poderá ajudar na tão necessária arrecadação do governo, já que gastam sempre mais do que arrecadam.
A segunda é que têm pouca preocupação com o poder de compra dos brasileiros, pois os produtos se tornarão mais caros à população. Já sentimos isso por aqui quando este governo decidiu tributar as importações individuais feitas pelo correio, a conhecida “taxa das blusinhas”. O resultado é sempre o mesmo: reduz-se a quantidade de dinheiro na mão das pessoas. Ficamos mais pobres sempre que mais impostos são arrecadados.
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Claro que uma combinação das conclusões anteriores é possível. Lula, Haddad e suas equipes pouco entendem de como a economia funciona e, ao mesmo tempo, estão pouco preocupados com a efetiva capacidade de consumo dos seus concidadãos. O que interessa é mostrar oposição ao governo imperialista americano, mesmo que isso seja prejudicial aos brasileiros.
Esse comportamento revanchista do governo do PT é o mesmo que estabeleceu a obrigatoriedade de visto de entrada no Brasil para cidadãos de países que exijam o visto de brasileiros. Ou seja, já que dificultam nossa entrada no seu país, vamos dificultar a deles também. Isso sem olhar por que esses países exigem os vistos — que podem ser por grande fluxo de candidatos a imigração, coisa que não temos. Ou problemas de segurança nacional, que também não temos.
O que deveria orientar qualquer política externa é se determinada medida contribui para melhorar a vida dos residentes do país. Nesse caso, facilitar a entrada de estrangeiros de países desenvolvidos pode incrementar o turismo por aqui e elevar a renda em benefício de todos os brasileiros. O mesmo raciocínio devemos ter em relação às tarifas aduaneiras. Elas contribuem para a melhoria da renda dos residentes no Brasil? De outra forma, é jogar um jogo de soma zero que, como sabemos, não pode ter mais de um vencedor.
André Burger é economista e conselheiro superior do Instituto Liberal
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