Nísia Trindade: fritura política ou incompetência?

Que Nísia Trindade puxaria a fila de demissões na segunda metade do governo Lula, todos os corredores de Brasília já sabiam desde o ano passado. Assim como era sabido que Alexandre Padilha queria a cadeira desde janeiro de 2022 — e só foi preterido porque Janja da Silva queria prestigiar a amiga de longa data, egressa da Fundação Oswaldo Cruz na pandemia.

Nísia limpou as gavetas deixando para trás um rastro de maus serviços: o país viveu a epidemia mais aguda e longa de dengue da história — dengue de inverno é coisa nossa —; as vacinas não chegaram; faltam insumos básicos nas prateleiras para quem precisa de tratamento contínuo; houve um escândalo de transplantes de órgãos infectados com HIV no Rio de Janeiro; fora os problemas contábeis com o Tribunal de Contas da União, especialmente quando se joga luz em R$ 55 milhões destinados à Prefeitura de Cabo Frio (RJ), um mês antes da nomeação do seu filho, que é músico, para uma secretaria municipal.

Tudo isso — ou nem precisava de tanto — já eram motivos para demissão. Tanto que a ministra chorou quando levou um puxão de orelha público de Lula em reunião com colegas. Foi consolada nos braços de Janja. Mas foi só?

Problema além de Nísia Trindade

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante anúncio da instalação do Centro de Operações de Emergência (COE) para Dengue e outras Arboviroses e o novo Plano de Contingência Nacional para Dengue, Chikungunya e Zika. F
A então ministra da Saúde do 3º governo Lula, Nísia Trindade, durante anúncio da instalação do Centro de Operações de Emergência (COE) para Dengue e outras Arboviroses e o novo Plano de Contingência Nacional para Dengue, Chikungunya e Zika | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A resposta é não. Lula está numa encruzilhada: ou aceita o que o ministro da Propaganda, Sidônio Palmeira, diz, ou desiste dele. O marqueteiro coleciona um combo de erros até agora, mas sabe que saúde e segurança pesam em ano eleitoral. Padilha é um quadro fraco — “fósforo queimado”, como dizem na Câmara dos Deputados —, mas é obediente. E o PT cansou de Nísia.

No Congresso Nacional, contudo, nomes como o de Sidônio, Nísia, Padilha e companhia causam risos nos tapetes verde e azul. A curiosidade é saber o quanto José Dirceu já entrou em campo.


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