Rei David interpretado por um egípcio

Os anaquins eram temidos guerreiros da Antiguidade. Habitavam regiões montanhosas. Eram gigantes. Das entranhas de uma caverna, Golias surgiu para enfrentar David. Depois, a história é conhecida. Mas não tanto.

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A série Casa de David, da Prime Vídeo, é repleta de retrospectivas. Cenas de guerreiros no deserto são congeladas para mostrar como eles chegaram até lá. Entre estas idas e vidas, o mito da bíblia ganha contornos novos. Pouco conhecidos ou às vezes esquecidos.

De curioso, o fato de o protagonista David, o maior rei de Israel, ser interpretado pelo egípcio Michael Iskander, merece ser lembrado. Por muitas décadas, Israel e Egito guerrearam entre si, até o acordo de paz definitivo de 1979. A atual relação entre os dois países é de paz, mas não se pode dizer que é amizade.

Na série, o enredo mostra que a saga humana não é feita de heróis imbatíveis que ascenderam sem dor. Sem se deparar com conflitos, com fortes sentimentos. Não. Cada fato histórico, em meio a brilhantes interpretações, é contado com detalhes. Se não forem verdadeiros, pela licença poética, certamente são reais.

Muito da violência primitiva dos filisteus, na época, se assemelha às práticas do grupo terrorista Hamas, atualmente. Naqueles anos de luta no corpo a corpo, a necessidade de sobrevivência de Israel, contra o ódio gratuito, já estava presente.

Mas o ódio também estava ligado ao poder. Poucas obras épicas trouxeram um rei Saul tão intenso. Interpretado pelo palestino-israelense Ali Suliman, a história mostra uma loucura nada inocente, conforme pode-se imaginar. Seu conflito é brutal.

Como guerreiro, ele é imbatível. Utiliza a espada com precisão e luta de forma letal. Prepara seu filho, o honesto Jonatas (Ethan Kai), para herdar sua coroa.

Bem diferente de um David cheio de dúvidas, relegado pela família por ser sensível, como um bode expiatório de todas as culpas alheias. Do pai, dos irmãos, entre os quais Eliabe (Davood Ghadami), bem mais forte do que o “irmãozinho”.

David luta para superar seus medos. Sua pureza é detectada por Samuel (Stephen Lang), o profeta, que se decepcionou com Saul e busca, guiado por Deus, um substituto. “Deus é mesmo muito engraçado”, ressalta Samuel, rindo, satisfeito, da escolha divina.

David e Golias

Mas a decepção de Samuel não foi civilizada. Teve um caráter visceral, implacável, como bem retrata a série, remetendo a todo o contexto cheio de emoções violentas. Entre eles, a inveja e o ódio. Dos quais David, que nem sabe que seria ungido, e Samuel, foram alvos.

Vida dura do futuro rei, invejado pelos irmãos. E do poderoso profeta, cuja autoridade é desrespeitada por Saul. Ele ousa desafiar o poder de Samuel, embriagado pela ambição.

Sentindo-se injustiçado por ter decidido por si mesmo e não ter obedecido aos desígnios de Deus. Na rede de intrigas, outra protagonista é a mulher de Saul, Ahinoam, muito bem interpretada pela israelense Ayelet Zurer.

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O cenário é dominado por horizontes de montanhas onduladas e áridas. Estende-se até onde a vista alcança. A luz do sol poente irradia um brilho dourado e alaranjado.

Contrasta com as sombras profundas das montanhas, criando um efeito dramático, que ilumina relações humanas. Observadas, castigadas ou contempladas pelo olhar divino. Saul, Samuel e David não formavam um trio de amigos em perfeita harmonia.

Na trilha, instrumental e suave, músicas bíblicas, como Adon Olam. Tudo para que o público entenda a história por trás do confronto entre o bem e o mal, David e Golias. E se reconheça, de alguma maneira, dentro dele.

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