Entenda como o crescimento das cidades afeta a vida do quero-quero

Nos últimos tempos, a fauna silvestre tem precisado se adaptar cada vez mais ao avanço do concreto e ao ritmo frenético da vida urbana. Um estudo da Escola de Zoologia da Universidade de Tel-Aviv revela como a urbanização molda o comportamento do quero-quero, ave que se tornou conhecida principalmente em parques e campos abertos das cidades.

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O professor Orr Spiegel, junto com o estudante de doutorado Michael Bar-Zivos, investigou o impacto da urbanização no comportamento da espécie Vanellus spinosus, um tipo de quero-quero.


Spiegel foi o orientador. Participaram também Hilla Ziv, Mookie Breuer, Eitam Arnon e Assaf Uzan, membros do Laboratório de Ecologia do Movimento e Comportamento Individual da universidade.

Em uma série de estudos comparativos entre quero-queros urbanos e seus homólogos rurais nos vales de Beit She’an e Harod, em Israel, o professor Spiegel destaca que “as aves que você vê fora da sua janela urbana são fundamentalmente diferentes em seu comportamento das suas congêneres em áreas menos perturbadas.”

A mudança pode ser em vários hábitos: maior ou menor ousadia — em relação à confiança no ambiente urbano –, velocidade de voo e distâncias percorridas — em relação a obstáculos como prédios, postes e localização de parques ou áreas verdes.

“De forma geral, as mudanças comportamentais em resposta à urbanização podem incluir adaptação, plasticidade comportamental e mudanças na composição de personalidade de uma população”, afirma o professor a Oeste. “Nossos dados apoiam a última – mudanças mais fundamentais no comportamento dos indivíduos.”

Ele destaca que a compreensão do ambiente é crucial para estudar as interações entre as aves e seus habitats. Tais interações, prossegue, são sempre um obstáculo quando se tenta generalizar expectativas entre espécies e ambientes.

“Os vales de Beit She’an e Harod são planos e quentes, com inverno ameno, com 10°C até 40°C no verão”, observa o professor. “Por isso, lidar com o calor é um desafio. Por exemplo, a ave precisa sombrear mais os ovos no chão do que aquecê-los na maioria do dia. Os verões não têm chuva nenhuma, e os invernos mais frescos têm aproximadamente 400–500 milímetros de precipitação anual.”

A região pesquisada tem um mosaico de habitats, incluindo campos agrícolas (trigo, cevada, milho), pequenos assentamentos humanos, muitos jardins irrigados verdes que atraem aves e algumas baias de lanchas.

Beit She’an, conta Spiegel, é uma cidade de médio porte, com parques nacionais naturais, viveiros artificiais de peixes, que são os habitats favoritos das aves.

“Quero-queros nesta região ocupam tanto habitats urbanos quanto rurais, permitindo-nos comparar seus comportamentos ao longo desse gradiente de urbanização local, e seu comportamento pode ser diferente mesmo que os habitats estejam a apenas alguns centenas de metros de distância.”

Quero-quero nas grandes metrópoles

A situação, segundo Spiegel, muda em relação a metrópoles, como São Paulo, uma das cinco maiores do mundo e inserida em um clima tropical.

“Nos trópicos, as áreas urbanas provavelmente oferecem menos benefícios para a maioria das espécies, então, apesar de não ter testado isso, eu esperaria uma maior evitação por parte das aves locais”, afirma o especialista. Para ele, o impacto das cidades é mais prejudicial ainda do que em vilas.

“As aves só recebem o lado negativo dos humanos, já que sombra, água e comida estão mais facilmente disponíveis fora dessas áreas em ambientes tropicais como o Brasil.”
Ainda mais em um aglomerado urbano como o da capital paulista.

“A alta taxa de perturbação nas cidades pode causar comportamentos de fuga aumentados e sobrepor os efeitos da adaptação”, revela o professor. “A fragmentação do habitat, a poluição e a atividade humana podem remodelar os síndromes comportamentais das aves urbanas.”

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Como solução, o professor ressalta que há um grande debate sobre limitar o crescimento urbano e manter, ao redor das cidades, áreas verdes ou deixar a cidade se expandir, aumentando o número de parques dentro dela. Ele prefere a primeira opção.

“Entender como a urbanização influencia o comportamento animal é crucial para informar os planos de conservação futuros”, destaca Spiegel. “Manter espaços verdes e corredores dentro dos ambientes urbanos pode ajudar a preservar a conectividade do habitat (e esses têm alguns benefícios óbvios para as pessoas nessas áreas urbanas), mas pode vir com o custo de desperdiçar mais áreas naturais.”

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