O livro Ainda Estou Aqui inspirou o filme homônimo que, neste ano, venceu a categoria internacional do Oscar. Sob direção de Walter Salles, a produção conta a história da advogada Eunice Paiva. Ou melhor, descreve parte da história dela. O longa não mostra, por exemplo, o caso em que a personagem foi responsável por financiar o aborto do próprio neto.
A forma como Eunice bancou o aborto é contada no livro escrito pelo seu filho, Marcelo Rubens Paiva. Nas páginas 85 e 86 de Ainda Estou Aqui, o autor narra a situação, com direito a elogiar a postura da mãe.
“Minha namorada de 18 anos engravidou”, afirma o escritor, ao sinalizar que isso ocorrera em 1979, quando ele tinha 19 anos e estudava na Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista. Na época, o autor admite que era bancado diretamente por Eunice. “Vivia da mesada apertada da mãe.”
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E foi a mãe do escritor quem organizou o aborto daquele que seria neto dela. Sem dar maiores detalhes e valores, ele afirma que Eunice foi a responsável por levar a então namorada a uma clínica no Itaim Bibi, bairro nobre da capital paulista, onde a gestação foi interrompida pela equipe médica de plantão.
“Ela [Eunice Paiva] não pensou duas vezes”, informa Marcelo Rubens Paiva. “Não deu lição de moral, uma dura, não reagiu emocionalmente usou a razão, como sempre (…). Deu o dinheiro, apoio e ainda exigiu o melhor. (…) Foram à clínica no Itaim, indicada pelo ginecologista da mãe.”
“Minha mãe era assim: não me deu dura por engravidar a namorada, me deu uma força para resolver o problema”, contra o escritor, no livro. “Minha mãe era machista. Topava as maluquices e irresponsabilidades do filho homem.”
No trecho em que descreve o aborto de seu próprio filho, o autor nem menciona o nome da então namorada que foi levada a uma clínica de aborto por sua mãe.


A questão do aborto movimentou as redes sociais no início desta semana. O jornalista Lucas Bellinello e o professor Thomas Giulliano chamaram a atenção para o caso.
A versão de Eunice Paiva no filme
Sem relatar o episódio do aborto, Eunice Paiva é apresentada como uma heroína na adaptação cinematográfica dirigida por Salles, herdeiro do banco Itaú e que tem fortuna avaliada em US$ 4,4 bilhões (cerca de R$ 25 bi, na cotação atual).
No filme, Eunice é interpretada por Fernanda Torres. O longa mostra a luta da advogada por justiça pelo marido, o ex-deputado federal Rubens Paiva. Ele foi sequestrado e morto pelo regime militar brasileiro, em 1971.
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