Padilha nomeia ex-investigado pela PF para controlar R$ 100 bi de verba da Saúde

O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, delegou a gestão do maior orçamento da pasta a um colega de partido. Seu ex-assessor na Secretaria de Relações Institucionais, o petista Mozart Sales, vai assumir o comando da Secretaria de Atenção Especializada, que dispõe de R$ 100 bilhões para este ano. 

Esse montante pode crescer ainda mais, pois a secretaria será responsável pelo programa de redução de filas para atendimentos especializados e cirurgias, que será o principal destaque do ministério. Sales teve participação na criação do programa Mais Médicos, que trouxe médicos cubanos para atender em áreas sem profissionais da saúde.

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Na última eleição municipal, Sales se licenciou do cargo no governo para tentar ser indicado como vice na chapa de João Campos (PSB-PE) à prefeitura de Recife, mas foi preterido e retornou à sua função no Planalto. Em 2004, foi eleito vereador da capital pernambucana, mas foi derrotado nas três eleições subsequentes — em 2006, 2008 e 2014.


O novo secretário tem a confiança de Padilha, com quem mantém uma amizade desde os tempos de faculdade. Ambos são médicos e pertencem à mesma corrente do partido, a CNB. A apuração é do portal Uol. 

Em dezembro de 2015, durante o governo Dilma Rousseff, Sales foi alvo da operação Pulso, deflagrada pela Polícia Federal, sob suspeita de envolvimento com uma organização criminosa que manipulava licitações e desviava recursos públicos. Ele foi exonerado em agosto de 2016, junto com toda a diretoria.

Durante a operação, a PF encontrou dinheiro sendo jogado pela janela. O foco da investigação era o então presidente da empresa, Rômulo Maciel Filho.

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Na foto, Lula, Nísia Trindade e Alexandre Padilha | Foto: Divulgação/Redes sociais

Damares pede explicações a Padilha

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) solicitou ao ministro Padilha explicações sobre a nomeação de um investigado por desvios na Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). 

O Ministério da Saúde respondeu que “cabe esclarecer que a própria Polícia Federal concluiu que o ex-diretor Mozart Sales não tinha qualquer participação ou responsabilidade nas supostas irregularidades, as quais eram anteriores à sua posse como diretor da estatal”. 

Segundo a nota emitida pela pasta, todos os questionamentos sobre Sales foram arquivados ao fim das investigações, sem qualquer indiciamento ou oferecimento de denúncia. “Assim, não há nenhuma investigação ou processo em curso, em qualquer instância, sobre essas alegações.”

Damares Alves, presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

O que faz a Secretaria de Atenção Especializada à Saúde

A Secretaria de Atenção Especializada à Saúde é responsável pelo controle de qualidade do Sistema Único de Saúde, UPAs, doenças raras, e pela “certificação das entidades beneficentes que prestam serviços complementares à rede de saúde pública”. Ela também gerencia recursos para tratamentos de alta e média complexidade. 

Na gestão de Nísia Trindade, Cabo Frio (RJ) foi a única cidade do estado do Rio de Janeiro a receber mais recursos para a área. Um mês depois, o filho da ministra foi nomeado secretário de cultura do município, apesar de nunca ter ocupado um cargo público antes. Esse episódio gerou desgaste para a ministra, que precisou se explicar ao Congresso.

Naquela época, a secretaria estava sob a gestão de Adriano Massuda, que foi transferido por Padilha para a secretaria-executiva, equivalente ao cargo de “vice-ministro”. Massuda substituirá o petista Swedenberger Barbosa, que poderá ser alocado no gabinete pessoal do presidente Lula, de quem já foi assessor em mandatos anteriores.


Sales já foi mediador do Ministério da Saúde com a Presidência

Como assessor de Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, Mozart Sales era responsável pela mediação com o Ministério da Saúde no que se refere à liberação de verbas, o que gerou atritos com políticos do centrão. 

O Uol identificou que Sales esteve 76 vezes no ministério ao longo de um ano e seis meses, embora sua agenda oficial registrasse apenas 15 visitas. Ao acessar os registros de entrada e saída no prédio, o portal encontrou evidências de omissões.

Além disso, o presidente favoreceu um grupo de prefeitos com repasses de recursos, especialmente da Saúde, sem critérios técnicos. As verbas eram liberadas de forma acelerada, e Sales era o encarregado de levar as ordens diretamente ao ministério, o que evitava o registro oficial do direcionamento político.

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